Cineastas brasileiros apostam na cinebiografia

“A ficção está em decadência. É como se as histórias tivessem acabado.” Micael Langer, um dos diretores do documentário Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Eu Dei, em cartaz na cidade de São Paulo, aponta para o novo caminho do cinema brasileiro: a cinebiografia. Contar histórias reais na telona tem se mostrado uma aposta certeira dos cineastas, enchido as salas de exibições e motivado novas produções.

Exemplos não faltam. Com estreia marcada para junho, Jean Charles, o longa que retrata a vida do brasileiro assassinado pela polícia de Londres, em 2005, encabeça a fila das biografias filmada que estão por vir. Uma fila longa, que ainda conta com a da ex-garota de programa Bruna Surfistinha, do jogador corintiano Ronaldo, do cantor e político Frank Aguiar, da jovem acusada de matar os pais, Suzane Von Richthofen, da cantora Cássia Eller, de Jânio Quadros, de Lula…

“É uma tendência que vem funcionando e prova que o público está mais interessado no próprio País”, diz Fábio Barreto, que finaliza Lula, o Filho do Brasil. Previsto para estrear em janeiro de 2010, o filme não terá nada de política. “A vida do Lula a partir de 1980 todo mundo já conhece e é maçante. Será uma história de um filho e uma mãe, como outras milhares, e fala de superação de perdas.”

Já Henrique Goldman, diretor de Jean Charles, usa o apelo do caso verídico para reforçar o tom de denúncia. “A ficção tem que dar provas de ser verdadeira. Já a realidade, por mais absurda, é a prova da própria existência. Todo filme, baseado ou não na realidade, é um mundo com regras próprias, em que o espectador aceita viver por um determinado tempo.”

Foi a perplexidade com um crime longe do convencional que levou a produtora Ana Paula Sant’Anna a iniciar o projeto de mostrar a vida de Suzane Von Richthofen, condenada por comandar o assassinato dos próprios pais, em 2002, ao cinema. “Quando soube dessa história tão complexa, logo me ocorreu: isso daria um filme”, resume Ana. “Quero abordar a história dessa garota e não fazer um filme sanguinolento. Suzane podia ser a filha de qualquer um.”

Quem já provou o gosto de ter uma trama verídica fazendo sucesso no cinema quer repetir a dose. Depois de atrair mais de 5 milhões de espectadores com Dois Filhos de Francisco – que conta a trajetória da dupla Zezé di Camargo & Luciano -, Breno Silveira estava decidido a fazer uma coisa bem diferente, mas não conseguiu fugir da cinebiografia. “Logo apareceram muitas histórias de empresários, jogadores de futebol, perfis interessantes… Mesmo assim, não aceitei”, lembra o diretor. Até que uma fita sobre a vida Gonzaguinha caiu em suas mãos. “Foi meio sem querer e eu me encantei.”

A moda das biografias também voltou a rondar Sandra Werneck. Após Cazuza, a cineasta flerta com um projeto parecido, focando a igualmente polêmica Cássia Eller, morta em 2001. “Quero mostrar não só a vida dela como cantora, mas a vida dela além do mito.” Superar Pelé Eterno é a meta do Corinthians para 2010, quando começará as negociações para o longa sobre Ronaldo.

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