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Fotos: Divulgação

Carlos Coimbra recebeu prêmios internacionais.

 Morreu ontem, com 79 anos, o cineasta Carlos Coimbra. Nascido em Campinas, em 1928, Coimbra dirigiu filmes bastantes conhecidos em sua época, como o patriótico Independência ou morte (1972), lançado em plena ditadura Médici.

Foi nome importante no chamado ?ciclo do cangaço?, com títulos como A morte comanda o cangaço (1960), Lampião, o rei do cangaço (1962), Cangaceiros de Lampião (1966) e Corisco, o Diabo Loiro (1969). Dirigiu também adaptações como A madona de Cedro (1968), da obra de Antonio Callado, e Iracema, a virgem dos lábios de mel (1978), de José de Alencar. Foi um artesão, com vista dirigida ao cinema popular, sem grandes preocupações com a atualização da linguagem cinematográfica. Seu primeiro longa foi Armas da vingança (1955) e o último, Os campeões (1981).

Antes de se tornar cineasta, Coimbra teve uma carreira de cineclubista e depois de montador. Montou, entre outros, O pagador de promessas, de Anselmo Duarte (Palma de Ouro em Cannes-1962), e Fronteiras do inferno, de Walter Hugo Khouri, além de Elas são do baralho, do atual telenovelista Silvio de Abreu.

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Muito ligado à Cinedistri, de Oswaldo Massaini (hoje comandada por seu filho, Aníbal Massaini Neto), Coimbra dirigiu para a empresa Lampião, o rei do cangaço e Corisco, o Diabo Loiro, tidas como produções classe A, caras para a época. Aliás, a carreira de Carlos Coimbra deve ser analisada por sua participação importante no chamado ?ciclo do cangaço?, tendo dirigido quatro longas-metragens do gênero.

O pagador de promessas, premiado em Cannes.

Esse ciclo começa com O cangaceiro (1953), de Lima Barreto, produção da Vera Cruz que ganhou o prêmio de melhor filme de aventuras em Cannes e tornou-se grande sucesso internacional. Abriu um veio e Coimbra foi um dos diretores que o exploraram com maior competência. O ciclo teve tanto sucesso que o crítico Salvyano Cavalcanti de Paiva o apelidou de ?nordestern?, ou seja, faroeste nordestino. O curioso é que a maioria desses filmes era rodado aqui mesmo, no interior de São Paulo, para não onerar demais a produção. Essa tradição foi inaugurada com o próprio O Cangaceiro, cujas imagens do semi-árido nordestino foram captadas na região de Itu.

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Durante o ciclo, os atores migravam de uma produção a outra. Alberto Ruschel, o galã gaúcho de O cangaceiro, reaparece anos depois no elenco de A morte comanda o cangaço, e Milton Gonçalves, o eterno malvado, ressurge em Cangaceiros de Lampião. Como fenômenos populares, foram levados a sério pelos estudiosos. A pesquisadora Lucila Bernardet escreveu um estudo estrutural dos personagens do ?ciclo do cangaço? encontrando tipos interessantes neste grupo de filmes, entre eles o de Coimbra. Há neles, quase sempre, o cangaceiro ?mau?, vocacionado para o crime e incorrigível. Também há o cangaceiro ?bom?, que abraçou o crime por motivos diversos, uma injustiça, por exemplo. E aparece também a mocinha, que deverá ser salva, com o cangaceiro bom lutando contra o mau e reintegrando-se à sociedade. O artigo se chama ?Cangaço -Da vontade de se sentir enquadrado.? A estrutura do filme de cangaço aproxima-se assim do melodrama conservador. Mas dá frutos diferentes quando, reciclado, inspira uma obra-prima como Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.

Revista, a maioria desses filmes se revela datada. Têm o interesse histórico de um momento do cinema industrial no País. E também por terem atraído para seus elencos atores de peso como os já citados Alberto Ruschel e Milton Gonçalves, mas também Leila Diniz, Mauricio do Vale, Gloria Menezes e Leonardo Vilar.

Durante o regime militar, por ocasião do sesquicentenário do Grito do Ipiranga, Coimbra lançou Independência ou Morte, com Tarcísio Meira como dom Pedro I. Na história do cinema brasileiro é um caso isolado de filme patriótico e comemorativo, que acabou não vingando, mesmo durante a ditadura. Coimbra deveria dirigir o remake de O cangaceiro (1997), mas por problemas de saúde não pôde fazê-lo e o filme acabou ficando a cargo de Aníbal Massaini. Em 2004, o cineasta ganhou uma biografia pela coleção Aplauso -?Carlos Coimbra: um homem raro? – escrita pelo crítico de cinema do jornal O Estado de S. Paulo Luiz Carlos Merten.