Nascido com a vocação de ser um grande festival de público, o Cine PE teve momentos retumbantes. Sessões com mais de 2 mil espectadores no Centro de Convenções de Olinda, transformado em Cine Guararapes, enxurrada de prêmios (Calungas) para filmes que fizeram história no período chamado de ‘Retomada’, como Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky. Nos últimos anos surgiram outros eventos competitivos no Recife, a crise não permitia mais lotar o ‘cinemão’. O Cine PE passou por uma transformação. Adotou um formato menor e hoje as sessões ocorrem em um cinema de rua, o São Luiz, no Centro do Recife.
Não virou ‘pocket’ nem mudou o perfil. Guardadas as dimensões, continua sendo um festival de público, mas que não prescinde da autoria. Não pretende ser o mais político dos festivais brasileiros, como Brasília, nem o do tapete vermelho, como Gramado, muito menos um reduto de cinema independente radical como Tiradentes. Alfredo Bertini mantém-se no comando.
“Conceitualmente falando, um festival precisa assumir o perfil característico da produção, que é a diversidade, ou seja, uma aposta nas variadas tendências. Limitar-se a uma modelagem única, na qual a programação expressa um padrão linear, é bem mais uma característica de mostra do que de festival.”
Mais uma vez, portanto, o Cine PE – Festival do Audiovisual – o deste ano é o de número 19 – que celebrar a diversidade. O curador Rodrigo Fonseca, responsável pela seleção da mostra competitiva de longas e também da de curtas nacionais, identifica uma tendência na seleção deste ano. É uma valorização do lirismo e do humor. “Vários filmes, mesmo os documentais, estão buscando o lado lúdico e lírico da arte. O coletivo de filmes dessa edição espelha essa tendência, que tenho identificado nos filmes brasileiros desse ano em geral. Uma busca pela leveza do sonhar e pelo humor. Mesmo os curtas têm esse mesmo traço de valorização do riso, do sonhar e do imaginar.”
A seleção faz um interessante ‘crossover’, contemplando, na competição de longas, autores míticos como Luiz Rosemberg Filho e novos talentos como Bruno Safadi e o estreante (no longa) Rodrigo Grota, de consagradora atividade no curta. Todos os filmes são inéditos. O primeiro longa concorrente será exibido nesta segunda-feira, 2 – Por Trás do Céu, de Caio Soh, com Nathalia Dill, conta a história de uma sertaneja que viaja para a cidade grande e se encanta com o azul do céu. O céu é, de tal maneira, personagem do filme que o diretor disse que escolheu em função dele as locações. Filmou na Paraíba, “porque o céu de lá parece em 3D.”
A competição de curtas nacionais tem oito títulos, entre eles Gramátyka, de Paloma Rocha; Paulo Bruscky, de Walter Carvalho, sobre o famoso ceramista; Redemunho, da atriz Marcélia Cartaxo; e This Is not a Song of Hope, de Daniel Aragão. O Cine PE outorga Candangos especiais, de carreira, à diretora Carla Camurati, que recolocou o cinema brasileiro no mapa com Carlota Joaquina, após o terrível interregno da era Collor, e o ator Jonas Bloch. Só para lembrar, no extenso currículo de Jonas estão filmes como À Flor da Pele, de Francisco Ramalho Filho, dos anos 1970, Amarelo Manga, de Cláudio Assis, e O Escaravelho do Diabo, de Carlo Milani, em cartaz nos cinemas (infelizmente, sem o sucesso que merecia). O Cine PE ainda promove workshops. A premiação será no domingo, 8.
Concorrentes
O Pequeno Colombo
Animação de Rodrigo Gava
Guerra do Paraguay
De Luiz Rosemberg Filho, com Patricia Niedermeier, Chico Diaz
Por Trás do Céu
De Caio Soh, com Nathalia Dill
O Prefeito
De Bruno Safadi, com Nizo Netto, Djin Sganzerla
Leste Oeste
De Rodrigo Grota, com Felipe Kannenberg, Simone Iliescu
Danado de Bom
Documentário de Deby Brennand
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.