Por fim, os problemas técnicos que impediram a primeira sessão de Os Pobres Diabos foram superados e o longa de ficção de Rosemberg Cariry pôde ser mostrado ao público de Brasília. Verdade que numa sessão que começou quase à meia-noite e foi vista por um Cine Brasília bastante esvaziado, o que motivou queixas da equipe.

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Em todo caso, Os Pobres Diabos, com sua estética circense e melancólica, agradou em parte a quem o viu. Tem pontos fortes, como a fotografia a cargo de Petrus Cariry (filho do realizador), um bom elenco formado por Chico Diaz, Silvia Buarque e Everaldo Pontes, entre outros. Há o cotidiano do circo mambembe, vagando pelo sertão e tentando sobreviver. A questão alimentar é básica entre os artistas. E, claro, a precariedade retratada é um pouco uma metáfora do cinema e da situação geral das artes no País. “A gente fica se perguntado por que continuamos a fazer arte, se há tanta dificuldade em produzir e depois encontrar o público”, diz Cariry. Disposto, entretanto, a não baixar a guarda e continuar a luta.

Visualmente muito bonito e leve, Os Pobres Diabos ressente-se de trama mais consistente. Falta-lhe outro tanto de humor e inspiração. Dialoga, como é de hábito em Cariry, com a cultura popular (o cordel de Zé Pacheco A Chegada de Lampião ao Inferno), mas falta-lhe a ironia e a corrosão que fariam dele um filme de fato engraçado ou incisivo – sendo que as duas qualidades podem conviver numa obra.

Avanti Popolo, de Michael Wahrmann, é um filme feito pelas bordas. Em diálogo permanente com o cinema dito “marginal”, traz o cineasta Carlos Reichenbach (1945-2012) como ator. Ou melhor, não ator. Ele contracena com outro não ator, o pesquisador de cinema e professor André Gatti.

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Eles interpretam pai e filho, que voltam a morar juntos depois do divórcio do último. Em um ambiente depressivo, o pai procura resgatar a memória de outro filho, este desaparecido durante a ditadura e evocado apenas por filmetes em suporte Super-8. Há um narrador (o próprio diretor) que faz um programa de rádio pirata e tenta tocar para os ouvintes o velho hino socialista italiano que dá título ao filme. Mas o disco não funciona. Nada funciona. Wahrmann admite que é um filme sobre a morte e a desesperança. “Militante desde jovem, não sei para onde o mundo vai, e assisti à morte das utopias”, diz. Não à-toa, o personagem de Carlão a certa altura exclama: “Não vejo nada, está tudo cinzento!”.

Mais deprê, impossível. Mas Avanti Popolo tem seu grão de invenção, criatividade, inquietação, qualidades que às vezes faltam a outros filmes mais bem estruturados.

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Amor, Plástico e Barulho, de Renata Pinheiro, bebe na cena da música brega do Recife. Centra-se em duas cantoras e dançarinas do brega: a iniciante Shelly (Nash Laila) e a veterana Jaqueline (Maeve Jinkings, de O Som ao Redor). Uma parece espelho da outra e a rivalidade se insinua, à maneira um pouco do clássico A Malvada (All About Eve), de Joseph Mankiewicz, sobre a rasteira que uma novata pode aplicar a uma veterana. Mas, se a inspiração inicial era essa, ela para por aí, porque Renata faz uma imersão radical na cena boêmia do Recife, num trabalho bastante sensorial e cheio de cor local. Destaque para o trabalho das atrizes, ambas intensas e verossímeis.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.