Não é coincidência que, ao deixar o Rio de Janeiro e se mudar para São Paulo, o carioca Cícero Rosa Lins tenha lançado um disco intitulado A Praia. Ele, que se define tão praiano quanto um bom paulistano e “ia à praia ano sim, ano não”. É na distância geográfica do mar que banha a baía fluminense, mesmo raramente frequentado, que cresce a percepção de deslocamento. Cícero, em São Paulo, é um carioca longe de casa. Deixou seu apartamento, sua rua, seu bairro, cidade e até Estado para trás e criou um novo lugar para si em uma casa na Pompeia, próxima ao Sesc, a partir de 2014.
E é na cidade na qual ele gravou A Praia, o terceiro álbum de uma bastante elogiada carreira, que ele se apresentará pela primeira vez com Marcelo Camelo, o amigo do Los Hermanos e grande influência dessa nova música popular brasileira. Camelo participa do show de Cícero no Coala Festival, o simpático evento de música que se dedica exclusivamente ao material produzido em solo nacional. Cícero é uma das atrações de uma tarde que conta ainda com Silva, Lila, Céu, Baiana System e Karol Conka. A curadoria do festival se mostra antenada naquilo que é mais quente do cenário independente, já que Duas Cidades, do Baiana, e Tropix, de Céu, lançados neste 2016, já são fortes concorrentes para integrar as listas de melhores álbuns do ano. “Sempre tínhamos essa conversa de fazer um show juntos”, conta Cícero sobre a parceria com Camelo. “Além de não negar a influência que o Los Hermanos tem em mim, eu admiro o Marcelo por tudo o que ele fez para a música brasileira”, garante ainda.
A Praia, de Cícero, é de 2015. Gravado em janeiro e fevereiro daquele ano, o disco foi lançado em março. Trata-se do primeiro álbum do carioca a não ser gravado no próprio quarto dele. Desta vez, Cícero reuniu a banda que o acompanhava em turnê no estúdio El Rocha, em São Paulo, para registrar as dez canções do álbum. O resultado enche e infla o som tão conhecidamente introspectivo de Cícero. Um passo à frente, portanto.
“Comecei a conhecer uma realidade de pessoas que não têm a praia por perto, entende?”, questiona Cícero, que curiosamente estava no Rio de Janeiro na semana pré-Coala com o intuito de ensaiar com Marcelo Camelo a participação dele no seu show. “São Paulo é uma máquina de concreto enquanto o Rio de Janeiro é construído em cima de um cartão-postal.”
Aos 30 anos, sendo os cinco últimos dedicados à sua carreira solo, Cícero tem três discos lançados e uma série de despedidas e vidas deixadas para trás. O músico entendeu como funciona o seu processo criativo – ele envolve despedidas. Não é um acaso o fato de que cada um dos álbuns, Canções de Apartamento (2011), Sábado (2013) e A Praia (2015), tenha sido criado (e os dois primeiros também gravados) em diferentes endereços. “Já morei na zona sul, oeste, norte do Rio de Janeiro”, conta Cícero. “O que é curioso e acho que faz parte da nossa geração. Meus pais, por exemplo, moram no mesmo bairro até hoje.”
A Praia, assim como os demais discos – e os futuros -, são para Cícero um exercício de sentir o desprendimento. “Minha motivação (para fazer música) não é acadêmica. Ela é existencial. Em vez de tentar criar uma canção que revolucione, algo com um novo método de metragem, eu quero fazer algo que venha de dentro. Quando existe um motivo real, a música reverbera”, acrescenta.
COALA FESTIVAL Memorial da América Latina.
Av. Auro Soares de Moura
Andrade, 664, 3823-4600. Sáb. (3),
a partir das 13h. R$ 140.
Atrações
Silva
14h20 às 15h10
Lila
15h40 às 16h20
Céu
16h50 às 17h40
Cícero
(com Marcelo Camelo)
18h10 às 19h20
Baiana System
19h50 às 20h50
Karol Conka
21h20 às 22h20
Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.