Legítima representante do período mais rico da dança contemporânea norte-americana (os anos 1970, em Y), Trisha Brown transformou-se em uma marca. Inventou um jeito de dançar e de ensinar essa dança, com o qual criou mais de 100 coreografias. Desta sexta a domingo, no Teatro Alfa, serão mostradas 4 delas: “Foray Forêt” (1990) tem cenário de Robert Rauschenberg e iluminação dele e de Spencer Brown; “Les Yeux et l’Âme” (2011), com luz de Jennifer Tipton, música do Pygmalion, de Jean-Philippe Rameau, e cenários da própria Trisha, que também desenvolveu uma carreira de sucesso como artista visual; “Watermotor” (1978); e “Set and Reset” (1983), cujo aniversário de 30 anos a companhia celebra nesta turnê, tem música de Laurie Anderson (“Long Time No See”), cenário e figurino de Rauschenberg, luz dele e de Beverly Emmons, e foi dançada aqui em 1994, quando a cia se apresentou pela primeira vez no Brasil.
Além de oferecer um panorama das quatro décadas que cada uma delas representa, esse programa funciona também como uma despedida, pois a companhia desaparecerá no próximo ano. A exemplo do que Merce Cunningham fez, preocupado com o que sucederia com o seu legado depois que não mais pudesse zelar por ele, também a Trisha Brown Dance Company não seguirá sem o comando daquela que lhe faz existir, pois, aos 76 anos, Trisha, no momento, está muito doente.
Ela nunca trabalhou com o conceito de representação teatral e sempre lidou com o espaço de um jeito muito autoral, desenquadrando-o. Criou um jeito próprio de juntar os corpos que dançam, as ações que eles fazem e os materiais que estão em cena. Olhando distraidamente, parece um tanto aleatório, mas é tudo milimetricamente planejado.
No livro que escreveu sobre Trisha Brown (2012), a coreógrafa mineira Adriana Banana propõe a sua dança como fruto de um trishapensamento. Nos diz que é do fato de ela haver começado criando para espaços externos da cidade que tudo vai surgir pois, quando começa a coreografar para a caixa cênica, não abandona a lógica de composição com que vinha produzindo até “Glacial Decoy” (1979), seu primeiro trabalho para teatro.
Banana se refere ao tempo em que a companhia, fundada em 1970, se apresentava nos telhados de um SoHo ainda periferia em Nova York e nada glamourizado (“Roof Piece”, 1973), descendo pelas fachadas de seus prédios abandonados (“Walking Down the Side of a Building”, 1971) com peças que usavam cordas, andaimes, plataformas e roldanas. Estudiosos de Trisha Brown chamam esse conjunto de produções de equipment pieces, peças equipamentos.
Depois dele, apareceram as criações que partiam das acumulações matemáticas (o primeiro “Accumulation”, 1971, durava quatro minutos e usava uma canção do grupo Grateful Dead, e o segundo, em 1972, acontecia em um silêncio de 55 minutos). Seguiram-se as estruturas moleculares estáveis, que desaguaram no período das coreografias formalizadas, que depois buscaram estruturas mais simples. “Line up” (1976-77), inicialmente uma coreografia, acabou identificando o que Banana nomeia de ‘trishapensamento’: uma lógica da não previsibilidade, que chamou de meteorológica.
No momento em que prepara seu encerramento, a companhia se dedica a programas educacionais, constituídos por workshops, cursos intensivos e master classes (aulas magnas) da técnica e dos processos compositivos de Trisha Brown, e também por reconstruções de obras que há muito tempo não são dançadas. A próxima será “Son of Gone Fishin'” (1981), prevista para estrear em abril no New York Live Arts, em Nova York. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
TRISHA BROWN DANCE COMPANY
Teatro Alfa – Sala A (R. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000). 6ª, 21h30; sáb., 21 h; dom., 18 h. R$ 20/ R$ 170.