O sonho de subir no palco e contar como é a vida dos meninos da maior favela de São Paulo, finalmente, ganhou um porto seguro. A Cia. de Teatro de Heliópolis, formada por jovens da comunidade, completa 10 anos e comemora a data com a abertura da primeira sede própria. Fica em um casarão cedido pela Secretaria Estadual de Cultura no Ipiranga, bairro próximo da favela, também na zona sul. O local parece uma pequena chácara perdida no meio da cidade.

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O Ipiranga é conhecido por abrigar o Museu Paulista e vários palacetes de época, alguns tombados pelo patrimônio histórico. O casarão da Rua Silva Bueno, hoje a sede da companhia de Heliópolis, estava abandonado havia mais de 20 anos.

Na década de 1950, o prédio foi endereço conhecido de músicos, artistas plásticos e atores. Ali aconteciam encontros, batizados de Sarau dos Gatos, organizados pela proprietária, Maria José de Carvalho, musicista casada com o maestro Diogo Pacheco. Ela tinha vários bichanos espalhados pelo jardim. Seu piano ainda está no porão – com as teclas de marfim corroídas pelo tempo -, onde realizava as festas culturais. Dela restam ainda quadros e retratos empoeirados. Em uma das fotos, Maria José aparece jovem, no início do século passado. “Maria José não teve filhos e deixou a casa para o Estado”, explica Miguel Rocha, de 32 anos, fundador da Cia. de Teatro de Heliópolis.

Arena – Os jovens passaram tinta amarela nas paredes. Reforçaram vigas. E, aos poucos, a casa ganha nova vida. A biblioteca tem até bancadas, que receberão computadores. No imenso quintal arborizado foi instalada a arena com capacidade para uma plateia de cem pessoas. Ainda está tudo muito improvisado. O público tem de se acomodar em cadeiras de plástico. O camarim não tem conforto. Sob uma cobertura metálica, 13 jovens apresentam até sábado o espetáculo “Eu Quero Sexo”, com direção de Carlos Lira, dramaturgo de 52 anos. São histórias sobre amor e relacionamento.

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“A Cia. foi montada com o objetivo de ser um espaço para reflexão da realidade de Heliópolis. Isso funciona tanto para os atores quanto para a plateia”, diz Rocha. “Na peça contamos a história de uma menina que engravida na primeira relação sexual, por exemplo. Colocamos também um caso de amor homossexual. Há muito preconceito na favela, muito mais do que nas classes abastadas”, acredita o fundador da companhia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Casa de Teatro Maria José de Carvalho – Rua Silva Bueno, 1.533, Ipiranga. Tel.: (11) 2060-0318. Sexta e Sábado, 21h; Domingo, 19h. Ingresso: R$ 5.

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