Em cena, as protagonistas situam-se em diferentes épocas, têm suas peculiaridades e estão à volta com seus dramas cotidianos, mas ainda assim existe algo em comum entre elas: o telefone. Outro ponto em comum é que do outro lado da linha está um homem ? ou deveria estar.
Não importa se a paixão ainda existe, está em banho-maria ou figura no terreno hipotético de uma conquista não consumada ? é sobre as armadilhas do amor, curas e dores que o espetáculo desenrola.
A montagem abre-se com um texto mais denso, "A Voz Humana", de Jean Cocteau ? que Normal Benguel trouxe a Curitiba há mais de 15 anos ?, é ambientado em 1930, mesma data em que foi escrito. É a narrativa de um amor trágico, com os diálogos sendo prejudicados pela precariedade das transmissões telefônicas da época. Entre os grandes nomes que interpretaram este papel estão Ingrid Bergman e Anna Magnani. O diretor, em parceria com Jean-Pierre Tortil, é responsável pela tradução.
O segundo quadro, "Um Telefonema", tem autoria de Dorothy Parker. Aqui, uma lindíssima e louríssima jovem, bem ao estilo hollywoodiano dos anos 1950, espera ansiosa pelo telefonema do príncipe encantado. Enfim, o homem que ela tanto aspira para ter em sua vida. Publicado originalmente como uma crônica, o texto foi traduzido por Ruy Castro e adaptado para o palco por José Possi Neto.
Miguel Falabella escreveu "Pour Elise ou Uma Mulher de seu Tempo", especialmente para esta montagem. O público que teve contato com a francesa e a americana, inseridas em outras épocas, vai encontrar na última parte do espetáculo uma personagem atual: é brasileira, passou um pouco dos 40, e tem à sua volta uma ciranda existencial: o ex-marido, a filha, o namorado, a mãe, massagista, um cirurgião plástico genial e, para completar, parceiros sexuais de ambos os sexos.
Ao contrário da francesa que tem a solidão aumentada com a precariedade tecnológica, da infantilidade da americana apaixonada em plenos anos dourados, esta brasileira tem seu tempo consumido entre afazeres e os telefonemas nervosos que chegam pelos três celulares. São tortuosos, ou vistos distraidamente, os caminhos da felicidade.
Serviço
"Mulheres por um Fio", com Christiane Torloni.
Dias 2 e 3 de setembro (sexta e sábado), às 21 horas, dia 4 (domingo), às 19 horas, no Guairão.
Ingressos: R$ 40,00 (platéia e primeiro balcão) e R$ 30,00 (segundo balcão).