Do Soundgarden

Chris Cornell traz a Curitiba seu show acústico

Chris Cornell tem gostado da liberdade que só alguém que tenha dedicado mais de 30 anos ao rock pode ter. É a autonomia de fazer o que bem lhe der na telha – em uma entrevista ou em uma apresentação. Em busca dessa liberdade, ele iniciou a carreira solo, duas décadas atrás, enquanto se ocupava com outros projetos, tais quais a superbanda Audioslave e o Soundgarden que, se não é uma superbanda por definição do termo (não reúne integrantes notáveis de outros grupos), merece a alcunha pelos serviços prestados às músicas com guitarra, principalmente durante a ebulição do grunge na virada das décadas de 1980 e 1990. Cornell, hoje, pode ser tanto o performer que se espera dele em uma apresentação com banda, barulhenta e ruidosa, como um sujeito que se aproxima da plateia, com o violão pendurado no pescoço e conversa, ouve pedidos de canções e improvisa sem medo. Ele toca em Curitiba no próximo dia 9.

A segunda “versão de Cornell” vem ao Brasil no próximo mês. A turnê, como vem sendo recorrente nas atrações internacionais que visitam o País, começa em Porto Alegre (no Teatro do Sesi, dia 5 de dezembro). O giro segue para o Rio de Janeiro (Teatro Bradesco, dia 5), Curitiba (Ópera de Arame, dia 9) e se encerra em São Paulo (Citibank Hall, dia 11). No palco, ele é acompanhado por Bryan Gibson, produtor, violoncelista e parte do duo The Waking Hour. Ele é o responsável pelo piano em algumas canções e o acompanhamento em outras.

A quarta vinda solo de Chris Cornell ao Brasil – uma relação com o País iniciada em 2007 – é impulsionada pelo novo disco dele, o quarto de estúdio, Higher Truth, lançado no ano passado. O álbum é até o objeto central do show, mas está longe de ser o foco. Por exemplo, em 27 de julho, no Canadá, na última performance de Cornell antes da parada para os shows especiais de reunião da banda Temple of the Dog (leia mais abaixo) e da vinda à América Latina, foram seis faixas de Higher Truth de um total de 26.

A grande graça desta turnê que passa por lugares mais intimistas, embora o Citibank Hall tenha espaço para pouco mais de 4,1 mil pessoas sentadas, é a abertura ao improviso. Naquela mesma apresentação canadense, entraram covers de Prince (Nothing Compares 2U), Bob Dylan (The Times They Are A-Changin’ Back), Michael Jackson (Billie Jean), John Lennon (Imagine), além de canções do Soundgarden, Audioslave e Temple of the Dog, costumeiramente pesadas, em versões acústicas.

“Talvez o Chris Cornell de 25 anos atrás não tivesse a mesma tranquilidade para fazer uma apresentação dessas como hoje”, admite o músico, ao telefone. Falando de Miami, do calorento e úmido Estado da Flórida, nos Estados Unidos, onde mora e mantém o bronzeado atualmente, Cornell admite que em situações nas quais ele atua como frontman de uma banda, como nos shows eventuais que o Soundgarden faz, é necessário “seguir certos padrões de comportamento”. “Meu eu anterior possivelmente estaria preocupado demais em como estaria me apresentando, pensando em coisas que não deveria fazer. Minha posição como vocalista de uma banda como o Soundgarden não funciona como artista solo. Devo respeitar que se tratam de dois animais diferentes.”

Dentro da sua carreira solo, Cornell roda o mundo sem pompa de uma banda de apoio há cinco anos. Entendeu a duras penas a necessidade de se conectar com o público de uma forma diferente daquela à qual ele se acostumou, com poucas palavras, alguns elogios e algo que mexesse com os brios de plateias em estádios e festivais. “Foi preciso mudar a concepção do show e a interação com o público”, ele conta. “É preciso subir ao palco e olhar no olho daquelas pessoas. Ser você mesmo e não interpretar um personagem que não seja você mesmo. O bom é que a experiência pode ser fácil se você entender quem é, qual é a sua proposta para um show como esse. A partir desse entendimento, você chega lá, conversa com as pessoas, conta histórias a respeito das músicas que está prestes a tocar, atende a pedidos da plateia.” “Em shows assim, são muitos pedidos”, ele diz, rindo.

O formato atual, intimista ao extremo e sem pretensão, dá espaço para a voz de Cornell, conhecida como uma das melhores do rock. O jornal britânico The Independent se rendeu ao potencial da voz do músico ao dizer, em maio deste ano, que “quando ele solta aquela voz, você é capaz de sentir as moléculas do ambiente se transformarem, como se todos estivessem com medo de respirar sob o risco de emitir qualquer som que seja”. “No início, tentava decorar algumas histórias, algo para falar”, relembra Cornell. “Agora, não. Existe uma confiança mútua com o público.”

 

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