Choque de realidade

Até o fim do ano passado, Marcos Paulo estava escalado para dirigir a trama de Walter Negrão que sucederia Sinhá-Moça, atual novela das seis da Globo. Mas seu lado ator não resistiu ao convite de Manoel Carlos para viver Diogo, médico infectologista que entrará na segunda fase de Páginas da vida. Além do papel significar a estréia do ator em folhetins assinados por Maneco, uma inusitada proposta do amigo e diretor Jayme Monjardim foi decisiva. Responsável por inserir o debate da aids na trama das oito, o ator passou duas semanas na África visitando favelas e campos de refugiados locais com a maior população de aidéticos do mundo. ?O Jayme me falou: ?Vou te levar para um lugar barra-pesada. Não sei se dormiremos em barraca, se poderemos tomar banho. Não sei o que vai acontecer??, recorda o ator.

Na novela, Marcos Paulo vive Diogo, médico infectologista que resolve ir para a África tentar ajudar a população local com seus conhecimentos sobre o controle da aids. Idealista, ele passa cinco anos vivendo em campos de refugiados e nas favelas de Nairobi, capital do Quênia, e de Burundi. Com um conceito de vida totalmente novo, Diogo retorna ao Brasil e vai trabalhar na fictícia Casa de Saúde Santa Clara de Assis. Neste momento, ele reencontra Helena, médica obstetra vivida por Regina Duarte e antiga namorada dos tempos de faculdade. Por conta disso, ele viverá um triângulo amoroso com Helena e Greg, personagem de José Mayer. ?Dramaturgicamente, ele vai fazer esse triângulo. Mas acho que o Diogo vai além. Ele abordará o assunto da aids de forma mais profunda, com uma linguagem simples?, avalia.

Para viver a aventura na África, Marcos Paulo teve de se planejar de maneira distinta. Assim que leu o perfil do personagem, correu para aprender alguns procedimentos clínicos básicos. Na mala, decidiu levar apenas as roupas de figurino do médico e gravou suas primeiras cenas como o Diogo já durante o embarque no aeroporto internacional do Rio de Janeiro. A caminho de Nairobi, primeira cidade visitada, o ator teve uma idéia: usar um velho caderno em branco que levou para escrever um diário da experiência, sob o ponto de vista do personagem. Criativas, as anotações de Marcos agradaram Manoel Carlos, que editou o texto do diário para entrar em ?off? nas cenas de Diogo durante sua viagem pela África. ?É uma experiência que nunca imaginei ter, mas que ficará para o resto da vida. Uma surpresa no bom e no mau sentidos. Jamais esquecerei as imagens de lá?, impressiona-se.

As recordações da África, no entanto, não serão as únicas para Marcos Paulo. Páginas da vida será a segunda novela em que ele atua nos últimos doze anos. Decidido a dedicar-se exclusivamente à direção, o ator só cedeu à rotina em Começar de novo, trama exibida na Globo em 2004. Mesmo assim, ele era o diretor de núcleo da novela na época e, por isso, o autor Antônio Calmon ?suou a camisa? para convencê-lo a participar da trama. Desta vez, porém, Manoel Carlos não teve trabalho para escalá-lo. Aos 55 anos e com quase 40 de televisão, Marcos Paulo confessa que estava com saudades dos textos e de ficar em frente às câmeras. Mais que isso, vê os atores como as principais peças de uma telenovela. Para ele, o ator é quem faz o público rir ou chorar. ?Costumo dizer que ser ator é um bom vírus, que algumas pessoas têm e carregam consigo a vida inteira. Uma hora ele se pronuncia?, resume Marcos Paulo, num tom bem-humorado.

Senso de direção

Filho do autor Vicente Sesso, Marcos Paulo cresceu dentro do ambiente televisivo. Com 16 anos, fez sua estréia como ator em O Morro do Ventos Uivantes, novela exibida em 1967 na TV Excelsior. Mas o faro de Marcos Paulo não tardou em apontar para a direção de folhetins. Já na Globo, em 1977, o ator viajou para Nova York e encontrou com José Bonifácio, ex-diretor da Globo que comandava a dramaturgia da emissora na época. Numa conversa reservada, ele falou sobre sua vontade de trabalhar nos bastidores das telenovelas. ?Cansei de fazer sempre o mesmo tipo de personagem e achei que era a hora de partir para a direção?, conta.

De volta ao Brasil, nem o próprio Marcos Paulo poderia imaginar que teria tanta sorte logo em seu primeiro trabalho como diretor. Ao lado do também estreante Dennis Carvalho, ele conduziu Dancin? Days trama assinada por Gilberto Braga considerada até hoje como um dos maiores sucessos de todos os tempos da televisão brasileira. Depois vieram sucessos como o seriado Plantão de Polícia, as novelas A indomada e Porto dos Milagres e a retomada em 2003 da série Carga pesada. ?As coisas não acontecem de graça. Foi uma época em que a Globo estava renovando e aumentando sua linha de produção. Tudo aconteceu na hora certa?, reconhece.

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