Um dos grandes discos de 2015 reabre mais um ciclo na noite de hoje, 25, na Casa Natura, em Pinheiros. Estado de Poesia, de Chico César, roda o País, há dois anos, impondo-se como um de seus mais bem-sucedidos trabalhos. Ele agora faz o lançamento do CD e DVD do mesmo título, gravados ao vivo no Recife.

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O ciclo de fôlego é uma forma de trabalhar cada vez menos usual no meio artístico. A efemeridade dos trabalhos e a dificuldade de palcos têm feito artistas lançarem cada vez mais trabalhos em menor tempo. Chico corre estradas do País e do exterior com o mesmo álbum por quase três anos. Ele e Ney Matogrosso, com Atento Aos Sinais, atuam fora da curva. “Gosto de fazer assim. Não sei se é qualquer artista que gosta de visitar lugares como Barreirinhas, Bananeiras, Paulo Afonso, Garanhuns. Eu gosto disso.”

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O álbum ganha sobrevida com o projeto ao vivo, e volta com frescor. À formação da banda, com sons de teclado, bateria, percussão, baixo, sanfona e guitarra, foi incorporado um casal que toca sopros e metais. “Conseguimos colocar músicas mais dançantes assim”, diz ele.

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Estado de Poesia já dá esse recado. Ele tem belos momentos de se dançar junto, como Da Taça (que no show reaparece mais relaxada, unida a Onde Estará o Meu Amor e Diana). É a graça que o ao vivo permite. Sem mais a tensão e a seriedade do lançamento, Chico pode fazer seu baile. Um de seus mais contundentes protestos raciais, sociais é um manifesto bobdyliano chamado Reis do Agronegócio, que chama as classes política e lobista de “pinóquios velhos” depois de desfazê-las em cada verso. “Ó donos do agrobiz, ó reis do agronegócio / Ó produtores de alimento com veneno / Vocês que aumentam todo ano sua posse / E que poluem cada palmo de terreno / E que possuem cada qual um latifúndio / E que destratam e destroem o ambiente / De cada mente de vocês olhei no fundo / E vi o quanto cada um, no fundo, mente.”

O ao vivo tem mais pegada, mais peso. Caninana, rock and roll setentista com sanfona, tem a força de uma grande abertura. O reggae Negão tem a voz marcante de Lazzo Matumbi, e faz o jogo de sílabas para falar de algo que sempre está em seus discos. “Mas pra todo canto aonde com você eu vou / Com o canto do olho lançam setas de indagação / Ainda não sabem, mas sabemos que a opressão / É a falta de pressa do opressor pedir perdão.” É o estilo Chico César, de fazer festa tocando em feridas. Além de rodar pelas cidades brasileiras, Estado de Poesia foi mostrado na Europa e América Latina.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.