Chega de cafajestagem

Desde o início de Páginas da Vida, Caco Ciocler flerta com o jeito ?conquistador barato? de Renato. Afinal, não deve ser nada ?doloroso? para o ator viver um homem casado na trama com a bela Lívia, vivida por Ana Furtado, que ainda dá ?amassos? constantes na encantadora Isabel, a fotógrafa interpretada por Vivianne Pasmanter. Mas essas ?escapadas? de Renato parecem ter perdido um pouco da graça ultimamente. Não que Caco desgoste delas. Só que o paulistano, de 35 anos, está seduzido por outro lado de seu personagem – mais digno e altruísta. O fotógrafo Renato passou anos morando na Inglaterra e, de volta ao Brasil, vai registrar a pobreza entranhada no centro urbano, em meio às lindas paisagens cariocas. ?O personagem toca em um ponto muito legal, que é a utilização de nosso ofício e de nossas potencialidades para o bem comum. Adoraria que o Maneco investisse nisso?, torce.

Arrebatado pelas causas sociais, ele vê na fotografia uma ?arma? para transformar a sociedade. ?Na sinopse, o Renato era quase um Sebastião Salgado?, recorda Caco, comparando seu personagem ao fotógrafo brasileiro reconhecido mundialmente por suas exposições sobre a vida dos excluídos. Curioso é que foi exatamente essa maneira de pensar que aproximou Renato de Isabel. Na trama, ele desdenha dos trabalhos da charmosa fotógrafa – que faz álbuns de casamentos para a alta burguesia carioca. Como ambos têm personalidades fortes, os dois ?batem de frente? desde os primeiros capítulos da novela. ?Nós atores não temos controle sobre isso. A relação deles funcionou muito rápido. Agora é só um detalhe de até quando os dois vão resistir?, brinca.

O romance entre Renato e Isabel ficou tão forte na trama que, segundo o ator, as pessoas passaram a torcer para que os dois fiquem juntos – mesmo sendo ele um homem casado e com um filho pequeno. Enciumado com o caso entre Isabel e Miroel, arquiteto vivido por Ângelo Antônio, pela primeira vez Renato vai sentir medo de perder sua amada para outro. Com isso, o fotógrafo ?garanhão? vai deixar a mulher e o filho para investir nessa história. Diante da complicada escolha de Renato, Caco trata logo de defendê-lo. O ator, que também se separou da mulher quando seu filho ainda era pequeno, acredita que se houver sinceridade e esclarecimento, tudo é justificável. ?O Renato não acredita em casamento e, inclusive, já afirmou isso para a mulher. Acredito que muitas pessoas pensam assim. Ele vai tratá-la com respeito ao lhe confessar seu amor por outra?, defende.

Com a mesma naturalidade com que justifica a infidelidade de seu personagem, o ator afirma que teve dificuldade, no início da novela, em compreender a sensação de ?inércia? característica dos folhetins de Manoel Carlos. ?Me assustei um pouco. Senti falta de ação?, recorda o artista, que desde os dez anos de idade faz teatro e quase trocou a interpretação pela Engenharia Química. Como Páginas da Vida é sua primeira novela do autor, Caco está, aos poucos, descobrindo o que Maneco tenta informar ao público em suas tramas. Nesses pouco mais de dez anos de carreira televisiva, esta é a primeira vez que o ator encara uma novela mais naturalista. Excelente para ele, que vive um bom momento profissional depois de emendar América com a minissérie JK. ?Entendi que a vida não é feita só de grandes ações. Ao contrário. Muitas vezes ela é um tédio, é cotidiana. E é nisso que acho o Maneco genial?, elogia.

Correria profissional

Nesses dez anos de carreira, Caco Ciocler trabalhou exaustivamente. Com Páginas da Vida, o ator soma oito novelas e três minisséries – número que explica a presença constante do ator na tevê. O mais surpreendente, porém, é o número de filmes que o ator fez. Foram 14, ao todo. Só entre 2004 e 2005, enquanto se preparava para viver o Eddie em América, Caco fez quatro – entre eles o histórico Olga, de Jayme Monjardim, e Quanto Vale Ou é Por Quilo, de Sergio Bianchi. ?Eu realmente fiz muitos filmes. Fiz até demais, eu acho. Amo todos eles, sem dúvida. Mas fiz uma quantidade muito grande e atropelada?, pondera.

A correria de Caco, porém, deve seguir pelo menos nos próximos meses. No ar na novela de Manoel Carlos, o ator está em cartaz no centro cultural do morro do Vidigal, na zona sul carioca, com o espetáculo A Frente Fria Que a Chuva Traz – do dramaturgo paulistano Mário Bortolotto. Na peça, Caco troca o palco pela direção. No cinema, o ator estréia até o fim do ano no musical Prefiro a Maré, de Lúcia Murat – rodado na Favela da Maré, zona norte do Rio. No longa, ele interpreta um empresário. ?Acho essa profissão uma dádiva, porque meu instrumento de trabalho sou eu mesmo e minhas emoções e idéias?, empolga-se. 

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