São Paulo – Um público de 1.200 pessoas aplaudiu, emocionado, a primeira exibição mundial de Diários de Motocicleta, filme de Walter Salles, que foi apresentado na noite de sábado no Festival de Cinema de Sundance, em Park City, Utah, nos Estados Unidos.
E a maioria ficou para o debate com o diretor, conversa que privilegiou a identidade latino-americana. “Era a resposta que esperávamos quando rodamos o filme”, comentou Salles domingo à tarde, momentos antes do encerramento da segunda exibição, também com sala cheia. “As pessoas receberam a história de coração aberto, que se identifica com nossas intenções.”
Diários de Motocicleta narra a viagem de iniciação do jovem Ernesto Guevara que, antes de se tornar o famoso Che e ao lado do amigo Alberto Granado, rodou diversos países sul-americanos de motocicleta, a pé e de carona, momentos em que descobriu o grau de injustiça social que dominava a região. “Trata-se de apresentar uma geografia física e humana que nos é própria: a América Latina”, comentou Salles, que tem um sentimento especial pelo filme – afinal, ele conseguiu mergulhar e desvendar os segredos do continente, em um projeto que consumiu mais de dois anos de preparação.
Outro motivo é relacionado com a produção – desde Terra Estrangeira, ele não dispunha de tamanha liberdade de criação e execução. “Graças à presença de Robert Redford como produtor, tive total liberdade de ação, desde a escolha de elenco até a opção de o filme ser falado em espanhol.” Com isso, ele pôde definir o mexicano Gael García Bernal como protagonista. “Ele é um dos maiores atores de sua geração”, acredita o diretor brasileiro, que teve também o direito de dar a palavra final na edição, privilégio que poucos realizadores no mundo detêm.
Antes de seguir para o Canadá, onde vai rodar seu próximo filme, Walter Salles terá uma reunião para traçar os próximos caminhos de Diários de Motocicleta. Apesar de extra-oficialmente confirmado para o Festival de Berlim, que começa no dia 5, o cineasta ainda não ratifica. “Temos vários festivais em mente e talvez Berlim fique um pouco em cima da hora”, disse. “Podemos optar por outras direções.” O sucesso em Sundance poderá também alterar o calendário de estréia do filme em diversos países – no Brasil, por exemplo, onde o planejado seria em junho, deverá ser antecipado.