Charles Esche será o curador da 31ª Bienal de SP

O curador da 31ª Bienal de São Paulo, que será realizada no próximo ano, foi anunciado nesta quarta-feira, 17, pelo presidente da Fundação Bienal, Luís Terepins. É o escocês Charles Esche, de 51 anos, que tem vasta experiência à frente de mostras internacionais, como a Bienal de Istambul, do qual foi um dos curadores em 2005, além de dirigir há nove anos o Museu Van Abbe, em Eindhoven, Holanda. Também editor do Afterall Journal, publicação dedicada a discussões teóricas sobre arte, Esche é conhecido por seu interesse em promover manifestações artísticas desvinculadas do mercado de arte, dando atenção a artistas de países emergentes. Não por outra razão, o curador é também autor de um livro que relaciona arte a mudanças sociais, “Art and Social Change”, coeditado pela Afterall e a Tate Publishing.

Mais de uma vez Esche já disse que a arte tem de ser democrática e não deve ficar confinada em galerias ou submetida às leis do mercado. Como, então, pode uma instituição como a Bienal ser um teste para recusar o poder dos galeristas e contestar a lógica desse mercado? Imaginando o mundo de outra forma e refutando o argumento de que a arte depende do capital, responde o curador. “A arte tem a capacidade de retratar o não quantificável e agradeço imensamente o voto de confiança que a Bienal deu a mim, um outsider, para propor algo novo, que depende mais da imaginação do que de outros fatores.”

Esche pode estar retomando conceitos filosóficos da época de Spinoza, ao afirmar que ideologia e impulso artístico não estão divorciados como se imagina. No entanto, já esclareceu de pronto que a próxima Bienal “não terá um tema ou mesmo um leitmotif que coloquem limites à criação artística”.

Será, então, uma mostra experimental? Não exatamente. Esche diz que espera equilibrar tradição e experiência, não restringindo a mostra ao pavilhão da Bienal. Durante a coletiva sobre a mostra, ele sugeriu que gostaria de montar a próxima edição em cima de um conceito algo abstrato – a capacidade de dar forma ao intangível -, estimulando artistas a interagir com comunidades locais para descobrir onde está, afinal, a alternativa para os vícios da arte contemporânea – que, como ele mesmo costuma citar em entrevistas, é uma palavra consagrada na Rússia pré-revolucionária, ligada à ideia de uma arte social e politicamente progressista. E, quando ele diz intangível, não despreza uma arte ligada ao oculto. “A arte tem algo a ver com magia, com a capacidade de transformar a matéria”, argumentou, resgatando involuntariamente a máxima filosófica de Paul Klee, de que a arte torna visível o invisível.

Não se trata, contudo, de um olhar nostálgico para o passado ou de uma tentativa habermasiana de se segurar o legado da modernidade a qualquer custo. Esche não parece reverenciar Oscar Niemeyer nem o prédio que construiu para abrigar a Bienal, mencionando de passagem que a morte do arquiteto construtor de Brasília “exige necessariamente que novas forças e oportunidades se abram”. Esche disse também que é necessário olhar criticamente para a modernidade e não se deslumbrar com rótulos que funcionam mais como uma fronteira para o novo do que um parâmetro para a arte contemporânea. O Tropicalismo, segundo ele, seria uma dessas barreiras, uma alfândega contra a emergência do novo.

As bienais, segundo Esche, podem funcionar como portas de entrada para artistas fora do circuito europeu e americano – o que justifica sua presença como curador em mostras além desse eixo, como a Bienal de Riwaq, na Palestina, ou a de Gwangju, na Coreia do Sul. Escher, por exemplo, acabou descobrindo nelas artistas como a tailandesa Surasi Kusolwong e o búlgaro Nedko Solakov, dois apadrinhados por ele com mostras individuais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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