Elas são muito engraçadas, mas isso você já sabia. Basta lembrar dos filmes interpretados por Judi Dench, Maggie Smith, Joan Plowright e Eileen Atkins. Grandes atrizes de teatro, cinema e TV (Eileen talvez seja menos conhecida, mas basta vê-la em The Crown), as quatro foram feitas damas do império britânico por sua contribuição ao ‘drama’. O diretor Roger Michell as reúne em torno dessa verdadeira instituição da vida inglesa – o chá. Nos livros da dama do mistério, Agatha Christie, o chá é sempre fundamental.

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Elas tomam chá e lembram as carreiras – com direito a farto material de época. Com humor tipicamente inglês, falam mal de todo o mundo em Chá com as Damas. “Joan, olhe aqui.” “Querida, você esqueceu que eu não enxergo mais?” Tal é o tom. Dame Plowright, viúva do mítico Laurence Olivier, ficou cega. É a primeira a admitir que ‘Larry’ era um gênio, mas difícil de conviver. Maggie Smith que o diga. Viveu às turras com o grande Olivier. No palco e na vida.

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Mesmo para tão grandes atrizes, a vida não anda fácil. Joan Plowright queixa-se que não existem papéis para velhas damas cegas. Seu agente americano lhe disse – “Vamos tentar alguma coisa que Judi (Dench) tenha recusado.” E Maggie – “Oh dear, eles só se lembram da gente depois que Judi recusou.” E a própria Judi – “Que coisa mais rude de dizer.” Maggie – “Rude, mas verdadeira.”

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O filme é permeado por essas farpas. Maggie Smith, com a maior fleuma, lembra-se da única vez que viu estrelas no (teatro) Old Vic – foi quando ‘Larry’ Olivier lhe deu uma bofetada em cena que mais ribombou como soco. E como era para elas trabalhar com os maridos, pergunta o diretor Michell de trás da câmera? “Com qual deles, querido?”, retruca a imbatível Maggie. Tudo isso é muito divertido de ver, e ouvir, mas, ao longo dessas conversas, avultam temas da maior relevância. Embora não tenham sido ‘beldades’, todas sofreram assédio, mas eram outros tempos, nada a que um ‘Não!’ definitivo não colocasse ponto final. Elas discutem como se formaram, evocam momentos de tensão política, quando saíram às ruas para protestar “e a querida Vanessa (Redgrave) foi presa, arrastada pela polícia”.

A jovem Eileen reage à polícia, bate no policial que a enquadra. Baderneiras? Não – damas. Mais importante que tudo – elas discutem processos de criação. Eileen lembra que sempre entrava um segundo atrasada, e irritava ‘Larry’, porque subia uma escada correndo para parecer ofegante. “Nonsense, não é assim que se faz. É com técnica.” Interpretar é fazer o falso ficar verdadeiro. E nisso são mestras.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.