A arte popular, ou espontânea, está em processo crescente de valorização, em especial a pintura, historicamente preterida em relação à escultura. Em cartaz no Centro Cultural Correios, no Rio, a mostra Viva o Povo Brasileiro!, com cerca de 150 obras de artistas de 15 Estados, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, destaca pintores pouco conhecidos, como Vicente Ferreira (CE) e João Pilarski (PR), entre os celebrados Heitor dos Prazeres (RJ) e Ranchinho (SP).

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Com curadoria de Denise Mattar e consultoria de Roberto Rugiero, a exposição, a primeira dessas dimensões a incluir número expressivo de pinturas, é um recorte de duas das maiores coleções do gênero do País, a do advogado João Mauricio de Araújo Pinho e a do professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Irapoan Cavalcanti, ambos do Rio.

As obras, a maior parte de madeira e argila, se dividem em grupos temáticos, os mais frequentemente abordados pelos artistas: homem, animais, lúdico, fé e fantástico. Mestre Vitalino (PE), Chico Tabibuia (RJ), J. Borges (PE), GTO (MG), Família Alcântara (AM), Zezinha (MG) e Mirian (GO) são alguns dos representados.

Os quadros têm a mesma singeleza, originalidade e lirismo das peças tridimensionais, como bonecos, máscaras, carrancas e grandes esculturas de madeira entalhada. Dono da Galeria Brasiliana, em Perdizes, aberta há 37 anos e especializada em arte popular contemporânea, Roberto Rugiero conta que as telas vêm se valorizando pela escassez do número de artistas relevantes, pela consequente falta de reposição de trabalhos e pela gradativa compreensão de que a arte não acadêmica não tem menor valor por isso.

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“Nos últimos 20 anos, o número de pintores de qualidade passou de 30 para uns quatro ou cinco. A pintura sempre foi considerada de forma secundária, ainda que seja muito mais difícil de fazer”, disse Rugiero, que finaliza o livro Mestres da pintura espontânea.

Para João Mauricio de Araújo Pinho, que começou sua coleção há 30 anos, a centralidade da escultura até aqui tem a ver com a figura referencial de Jacques Van de Beuque, colecionador francês cujo acervo deu origem, há 40 anos, ao Museu do Pontal, na zona oeste carioca, o maior e mais significativo museu de arte popular brasileiro. “Ele pensava como europeu, que arte popular é escultura. Mas, no Brasil, a pintura é tão ou mais emblemática.”

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Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional nos anos 1980, Irapoan Cavalcanti, grande colecionador de Mirians (em sua sala na FGV são 50), está entre os que nunca desconsideraram a pintura popular. “Meu critério para comprar é me emocionar.”

Essa é a segunda edição de Viva o Povo Brasileiro!. A primeira foi em 1992, no Museu de Arte Moderna do Rio, e também com a participação de Denise Mattar. De lá para cá, a curadora lembra que a arte popular passou por momentos diferentes. “Até o fim do anos 1970, as obras eram muito vistas, participavam de bienais. Quando entrou uma postura estruturalista da crítica de arte, foi esquecida. Hoje há o movimento contrário, mas claro que continua muito mais barata do que a arte contemporânea.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.