Dos cinco principais integrantes da nouvelle vague, Eric Rohmer foi, talvez, o mais clássico. Se Godard revelou-se o mais notável inventor de formas, Truffaut o mais lucidamente amoroso, Rivette o mais ligado à história, e Chabrol o mais próximo discípulo de Hitchcock, Rohmer foi aquele que mais buscou esse algo impalpável que se chama equilíbrio. É a Rohmer (1920-2010) que o Centro Cultural São Paulo consagra mais uma de suas mostras, subtitulada de O Homem e as Imagens.

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Um dos grandes interesses da retrospectiva é trazer um Rohmer ainda pouco conhecido no Brasil, mesmo entre os cinéfilos que o têm em alta conta. Por exemplo, a notável obra documental que Rohmer dirigiu para a TV francesa nos anos 1960. Em um deles, O Homem e as Imagens, documentário de 35 minutos, Rohmer entrevista três cineastas nada banais, René Clair, Jean-Luc Godard e Jean Rouch. As escolhas não são feitas ao acaso.

Estamos nos anos 1960 e a nouvelle vague vivia sua fase de grande prestígio e influência mundial. Clair representava o cinema anterior, o cinema francês que ingressava na modernidade alicerçado por sólida obra anterior, iniciada em 1925. Godard, ainda em seus primeiros filmes, era o presente e também o futuro. E Rouch, ainda insuficientemente relacionado à nouvelle vague, era um pai de todos, ainda confinado na gaveta estreita do filme etnográfico. São esses três personagens que, estimulados por um sempre agudo Rohmer, refletem sobre a posição do cinema no mundo contemporâneo. Sua herança do teatro, da literatura e da pintura. E também da filosofia, como lembra Godard. Seu impasse diante do advento do cinema falado e, muitos anos depois, da televisão.

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São observações inteligentes, inesperadas, de criadores que refletem sem cessar sobre seu métier, atividade mental caída em desuso. São 35 minutos de precioso pensamento sobre o audiovisual, seus impasses e suas possibilidades.

Há também um documentário inesperado, também feito para a TV (esse veículo ameaçador para tantos cineastas), chamado Metamorfoses da Paisagem. Usando narrativa em off, Rohmer contrasta imagens da França ancestral, começando a comparação, não por acaso, de um antigo moinho de vento com o cenário industrial que domina a paisagem contemporânea.

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Evita o tom apocalíptico da “velha França que desaparece sob o progresso”, mas reflete sobre a transformação mental que essa mudança de configuração de paisagem traz consigo. Enfim, é um cinema do pensamento, com preocupação didática, no melhor sentido do termo. Informar, educar, provocando inquietação e nunca certezas apaziguadoras.

Além dessa parte representativa da obra documental de Rohmer, há três filmes a destacar, que tiveram pouca ou nenhuma circulação no País: Perceval, o Gaulês (1978), O Agente Triplo (2004) e o último filme do cineasta, Os Amores de Astrée e Celadon, este apresentado em concurso no Festival de Veneza.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.