Leonardo DiCaprio não hesitou em procurar o diretor de “J. Edgar” e pedir uma chance para o papel do controverso presidente americano ultraconservador Edgar Hoover (1895-1972), em cujo legado se destacam a criação do FBI e a perseguição a homossexuais. No filme, que estreia em janeiro no Brasil, o galã, eleito o ator mais bem pago de Hollywood (pela revista Forbes), aparece envelhecido por trás de grossa maquiagem. Sob a direção de Clint Eastwood, ele surpreende ao mostrar, nesse líder infeliz, uma ternura tolhida, uma suavidade quase romântica, que o lançam direto ao Oscar. Essa é apenas a última cartada de Clint. Funcionou antes com os atores Sean Penn e Hilary Swank que, às suas ordens em “Sobre Meninos e Lobos” (2003) e “Menina de Ouro” (2004), respectivamente, levaram estatuetas. Ele próprio tem quatro delas em casa.
A direção primorosa é apenas a mais recente de suas atribuições. Ele, que em meados dos anos 60 vivia um caubói sem nome nos faroestes sujos de Sergio Leone, hoje é comparado a mestres como Martin Scorsese e Francis Ford Coppola. Para celebrar a longevidade de sua obra e a pluralidade de suas facetas, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) exibe, a partir de hoje, “Clint Eastwood – Clássico e Implacável”, a maior retrospectiva do cineasta no País, com 42 títulos dirigidos ou estrelados por ele.
Aos 81 anos, Eastwood já viveu bons, maus, feios, homens notáveis e outros tantos execráveis. Todos com um mesmo brilho intenso em seus olhos azuis. “Traçamos um panorama completo para mostrar sua obra como ator e diretor. Não nos esquecemos dos filmes icônicos, como Por Um Punhado de Dólares (1964), que pôs Eastwood na cena. Leone, que o dirigiu, serviria como inspiração e referência para ele no futuro”, diz a curadora Gisella Cardoso. Outra parceria importante é a com o diretor Don Siegel, que chamou Eastwood para “Perseguidor Implacável” (1971), que exaltou a figura emblemática de Dirty Harry, o policial durão que faz justiça a qualquer custo. Nos idos dos anos 70, Quentin Tarantino ainda era uma criança quando Eastwood fazia chover balas com sua aniquiladora Magnum 44.
Se sob a carapuça do ‘bad boy’ americano justiceiro fez tremer vigaristas e cafetões, Eastwood também levou, na esteira dos disparos exibicionistas, o mulherio a suspirar. Sob outro olhar, igualmente aniquilador, Eastwood fez Meryl Streep parecer uma mocinha sonsa em “As Pontes de Madison” (1995), outro destaque da mostra, em que ele, o um fotógrafo aventureiro, mostra à pacata dona de casa um mundo novo que se estende além das cortinas de sua cozinha.
A preocupação com a ação dramática e a complexidade de personagens são, segundo a curadora, características que equiparam o trabalho de Eastwood ao dos grandes. “Ele une um mise-en-scène impactante a cenas carregadas de linguagem cinematográfica”, diz Gisella. Em outras palavras: conflitos, mistérios, revelações e reviravoltas de caráter marcam seus filmes como diretor. “Ele é extremamente observador, atento à relação do espectador com o personagem”, define a curadora, sobre o estilo Clint Eastwood de filmar.
Poucos takes, pouca conversa, zero assessores, Clint é direto e simples. Assim o definem os atores que passam por seu set. A uma reação de surpresa, ele falou ao The New York Times: “Eu não pareço ser um cara sensível? Ora, esse papo de armas é só atuação.” As informações são do Jornal da Tarde.
Clint Eastwood – Clássico e Implacável – Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Rua Álvares Penteado, 112, Centro. Tel. (011) 3113-3651. De hoje a 30/12. 70 lugares. Ingressos: R$ 4. Programação completa: www.bb.com.br