Após mais de cinco anos em um ambicioso projeto de restauro, a Casa Daros abre suas portas para o público pela primeira vez e traz uma programação que inclui oficinas, cursos, conversas com artistas e exposições. Concebida como um espaço de interação entre artistas da América Latina, a Casa surge com a promessa de ser um importante ponto de encontro dos novos nomes que despontam no cenário cultural latino-americano. A exposição inaugural, “Cantos Cuentos Colombianos”, traz 75 obras emblemáticas de dez artistas colombianos contemporâneos.

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O visitante que chegar ao espaço vai se deparar com uma provocativa obra de Fernando Arias. O artista construiu um caixão em tamanho natural com peças de Lego nas cores da bandeira colombiana. É o sonho infantil se transformando num jogo da morte – no lugar da cruz, uma linha branca simboliza a cocaína. A alusão à droga é recorrente na mostra. Juan Manuel Echavarría a transforma no produto final do hino nacional colombiano em Bandeja de Bolívar. E Miguel Ángel Rojas faz desenhos a partir de colagens de folhas de coca e notas de dólares dilaceradas.

Há também trabalhos que mostram as contradições de um país com uma exuberância natural que colide com a realidade social, como a instalação “Musa Paradisíaca” (nome científico da banana), de José Alejandro Restrepo. Já María Fernanda Cardoso remove a natureza de seu contexto e apresenta esculturas feitas de cadáveres de lagartos, moscas e gafanhotos.

E Nadín Ospina foi buscar inspiração nas esculturas pré-colombianas para discutir a questão da identidade. As peças em pedra, cerâmica ou metal fundido são versões modificadas produzidas a partir de modelos originais, onde a cabeça das esculturas é substituída por personagens de Walt Disney e de outros ícones da cultura pop norte-americana. Minnie se transforma em uma deusa da fertilidade e Pateta, em um xamã.

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“Queremos obras que sejam capazes de produzir algo na mente e na memória do visitante”, afirma o curador Hans-Michael Herzog. Os trabalhos, que estarão em exposição até o dia 8 de setembro, fazem parte da Coleção Daros Latinamerica, um rico acervo de quase 1,7 mil obras representativas de 117 artistas nascidos ou que vivem na América Latina. A Coleção foi criada em 2000 pela bilionária suíça Ruth Schmidheiny, e traz um abrangente panorama da produção cultural nas Américas.

Para o diretor de arte e educação da Casa Daros, Eugenio Valdés Figueroa, a ideia é criar um centro de divulgação na América Latina que funcione também como um espaço para os artistas se encontrarem e conhecerem suas produções. “Vivemos um período em que todos falam pelo artista: o curador, o crítico de arte. Então queríamos criar um espaço para devolver esse protagonismo ao criador, divulgar sua voz e seu pensamento”, diz Figueroa.

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Uma série de fatores levou o Rio de Janeiro a ser escolhido como a sede da Casa Daros. A ideia inicial era levar o projeto para Havana, mas as negociações fracassaram em 2003 por questões internas do governo cubano. Os idealizadores descartaram o México por estar muito próximo dos Estados Unidos, e outras cidades latino-americanas foram preteridas por enfrentarem momentos de instabilidade. São Paulo e Buenos Aires, na época, já possuíam uma infraestrutura cultural bastante consolidada. O Rio despontava como um cenário promissor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

CANTOS CUENTOS COLOMBIANOS

Casa Daros (Rua General Severiano, 159, Botafogo, Rio). Tel. (21) 2275-0246. De 4ª a sáb., das 12 h às 20 h; dom., das 12 h às 18 h. R$ 12 (4ª grátis). Até 8/9.