O poeta, ensaísta e cronista Affonso Romano de Sant’Anna premiou o público que lotou o Teatro Paiol na noite de quarta-feira, 12 de julho. Convidado da segunda edição do Paiol Literário, Affonso Romano mostrou por que é um dos principais intelectuais do país na atualidade. Veja abaixo alguns trechos da palestra de Affonso Romano no Paiol Literário que, até dezembro de 2006, trará a Curitiba grandes nomes da literatura brasileira, convidados para um bate-papo com os seus leitores, com entrada franca.

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Os eventos, mediados pelo escritor e jornalista José Castello, são realizados devido a uma parceria entre o jornal literário Rascunho, a Fundação Cultural de Curitiba e o Sesi Paraná. Também apóiam o projeto a Getz Propaganda, a Deiró Filmes, a Nume Comunicação, a Macchina Áudio, a Tchukon Terapias, o Bar Madrid e a loja Vivant. O Teatro Paiol é um espaço da Prefeitura de Curitiba, administrado pela Fundação Cultural. A próxima edição, no dia 17 de agosto, trará como convidado o gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil.

O que disse Affonso Romano de Sant’Anna:

Leitura

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A leitura amplia os horizontes. Quem lê melhora também sua leitura do mundo, da vida. Tudo tem uma leitura, a cabeçada de Zidane em Materazzi tem uma leitura. Quem lê livros com freqüência apura essa leitura de todas as coisas, pois aprende a se concentrar num assunto e a refletir sobre ele.

Literatura

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A literatura começou cedo em minha vida, porque meus pais liam bastante. Meu pai andava na rua com um livro na mão. Parecia um maluco, lendo e caminhando, as pessoas se preocupavam que ele sofresse um acidente. Minha mãe recortava as coisas interessantes que lia, poemas, e os colava num caderno, formando um livro particular. Nesse ambiente, acabei tornando-me um leitor e, conseqüentemente, um escritor. O interessante é que éramos seis irmãos, mas apenas eu enveredei para a escrita profissional.

Escritores

Existem autores e existem escritores. Qualquer um pode ser autor, pode publicar. Um jornalista, um redator pode ser um autor. E pode também vir a ser um escritor. Mas, para mim, escritor é diferente de autor. O autor publica para o mercado, conforme a oportunidade. O escritor tem um projeto, que eu chamo de projeto poético pensante. Ele constrói uma obra, um livro induz a outro, formando uma grande obra ao longo da carreira.

Drummond

Drummond foi uma grande influência em minha vida, tanto pelo que escrevia como pela amizade que tínhamos. Pouco antes de morrer, ele ficou muito doente e um jornal pediu que eu escrevesse seu obituário. Mas ele não morreu e o encontrei na rua. Foi uma sensação estranha, quase falei que havia escrito o seu obituário. Quinze dias depois ele morreu. Tempos depois, uma senhora me disse que, numa sessão espírita, o Drummond mandou me dizer que havia lido o obituário e tinha gostado muito. Aí, eu me preocupei: meu Deus, se até na outra vida a gente ler jornal, estamos perdidos.

Linhagem poética

O (crítico literário) Wilson Martins disse que eu seria sucessor do Drummond. Isso me surpreendeu e até me causou problemas, pois havia gente que tinha essa pretensão e achou que eu estava me colocando como sucessor do poeta – o que nunca me passou pela minha cabeça. Depois, o Wilson explicou melhor, dizendo que eu estava dentro de uma linhagem poética da qual Drummond foi um grande representante e que eu estaria nesta linha de continuidade, no que eu concordo.

Artes plásticas

Esse tema surgiu por acaso em minha vida e tem crescido muito. Depois que comecei a escrever minhas opiniões, senti que havia um desejo muito grande nas pessoas de discutir esse assunto, que muitas pessoas concordavam comigo, mas tinham medo, ou simplesmente não podiam emitir suas opiniões. Eu continuo insistindo: a arte moderna tem que ser rediscutida. Sempre digo: não existem formas desgastadas. O que existem são pessoas que ficam desgastadas diante de certas formas. 

Crítica literária

Vocês têm hoje, em Curitiba, o grande jornal de literatura do Brasil. O Rascunho está estraçalhando, virou o maior canal de diálogo da literatura. Aonde vou, recomendo que as pessoas o leiam. Aliás, o Paraná está muito bem servido nesta área, pois aqui também é feita a revista Et Cetera, da Travessa dos Editores, que também é excelente.