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Carrossel do Fyodor

A arte performática no Brasil vive um momento conturbado, com várias polêmicas. É nesse cenário em que uma nova apresentação pode gerar burburinho, agora com o artista russo, quase brasileiro, Fyodor Pavlov-Andreevich. Ele se apresenta em São Paulo, como parte da edição brasileira do Carrossel Performático de Fyodor, exposição com oito performances simultâneas que já passou por Buenos Aires (2014) e por Viena (2016).

O Carrossel em questão é uma estrutura circular que pode ser movida com a ajuda do público, por meio de bicicletas instaladas no local de exibição. Em São Paulo, será no Sesc Consolação, com entrada gratuita, entre 6 e 20 de novembro.

Por todos os locais por onde passou, o Carrossel uniu quatro artistas locais e quatro estrangeiros, incluindo Fyodor, também curador ao lado de Margarita Osepyan. “O mais importante é construir uma ponte entre performance local e internacional”, afirma o artista à reportagem.

Em sua própria performance, Fyodor, deitado nu, poderá ser tocado por até sete pessoas e, dependendo do local, um som musical diferente é executado. Somados, os sons se assemelham a uma orquestra. A cada cidade, um compositor local é convidado – para o Brasil, o responsável será Arto Lindsay. “Ele disse que fez um barulho tão forte que vou sofrer com as emoções.”

O artista explica que estará todo o tempo olhando para o teto e vai apenas sentir os cheiros e os toques. “A pessoa pode tocar de uma maneira mais intensa ou mais tranquila e isso vai interferir na música. A pesquisa é sobre a distância entre a obra de performance e o público que, no caso, chega a quase zero.”

Para possibilitar que os toques se tornem som, Fyodor contou com a parceria de um grupo de engenheiros, artistas e músicos, o Playtronica. “Eles desenvolveram uma tecnologia que pode tocar música em qualquer superfície, seja uma fruta ou uma parede.” Para a performance de Fyodor, foi a primeira vez que o coletivo trabalhou com o corpo humano.

Apesar de viver no Rio, onde há quatro anos comprou um apartamento depois de vender sua casa em Moscou, Fyodor diz se sentir em casa também em São Paulo – por isso, desde o início, pensou em trazer a exposição para cá. “Sinto que, na vida passada, fui um mendigo do Centro de São Paulo – quando passo por lá, sinto uma mistura de tristeza e sensação de estar em casa.” O artista está nervoso em trazer o Carrossel. Não pelas polêmicas com nudez, mas pelo paulistano. “Eu me preocupo muito porque o público de São Paulo está acostumado com esse tipo de arte, já recebeu Tino Sehgal, Marina Abramovic… Estou com dedos cruzados.”

Mesmo com o atual momento da arte performática no Brasil, Fyodor não parece preocupado com possíveis repercussões, principalmente pela experiência que tem como diretor de um museu de performances na Rússia. “Creio que alguns ativistas podem falar alguma coisa, mas a arte está aqui para perturbar. Quero convidar todo o público, inclusive quem não gosta de arte de performance, para experimentar.”

Fyodor acredita que as performances do Carrossel não possuem conteúdo erótico ou que possam traumatizar crianças. Mesmo assim, para evitar problemas, foi estipulado um limite etário de 16 anos. “Não queremos deixar a vida dos nossos colegas do Sesc ainda mais complicada”, diz, ao citar os protestos contra a palestra de Judith Butler no Sesc Pompeia. Ambos os projetos são em parceria com o Instituto Goethe, parte do programa Episódios do Sul. “Esperamos Judith para fazer algo aqui também.”

A onda de conservadorismo, principalmente em relação às artes, não assusta o artista, que cresceu na União Soviética. “Sou bem familiarizado com censura e opressão, tínhamos a KGB na nossa porta.” A mãe de Fyodor, a escritora Lyudmila Petrushevskaya, só conseguiu lançar o primeiro livro aos 50 anos, por conta do regime do país. A inspiração para o Carrossel, aliás, vem dos primeiros anos de União Soviética, do período do Construtivismo Russo. A ideia veio em parceria com seu melhor amigo, o arquiteto Marko Brajovic.

“Para nós, é muito importante a ideia de que, quando o visitante entra e precisa pedalar, contribui para fazer o Carrossel girar. Isso tem relação com a ideia do Construtivismo”, acredita. Ninguém, porém, é obrigado a interagir com a estrutura. Nem com ele em sua performance, que em nada tem a ver com Lenin. “Aquilo foi uma brincadeira”, explica. “Apenas disse que, na performance, fico como Lenin em seu mausoléu, porque a minha estrutura no Carrossel se parece com um.” A performance de Fyodor, na verdade, pode fazer referência a qualquer corpo, segundo o artista.

O CARROSSEL PERFORMÁTICO DE FYODOR

Sesc Consolação. R. Dr. Vila Nova, 245. Tel. 3234-3000. De 6 a 20/11. Entrada gratuita

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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