A atriz Carmen Verônica é do tipo que prefere perder o amigo a perder a piada. Herança, talvez, do tempo em que conviveu com o irreverente Sérgio Porto, cronista carioca que ficou nacionalmente conhecido como Stanislaw Ponte Preta. Uma das mais famosas "Certinhas do Lalau", a intérprete da Mary Montilla, de Belíssima, faz graça de tudo: do nome de batismo, dos 72 anos de idade e até do fato de estar há tanto tempo sem fazer novelas. A última da qual participou, aliás, foi Deus nos Acuda, do próprio Silvio de Abreu. "Estou virando o próprio Halley. Só que ele aparece de 76 em 76 anos e eu, de 12 em 12. Só não sei se, daqui a 12 anos, ainda estarei por aqui…", graceja.
Na nova novela das oito, Carmen Verônica interpreta Mary Montilla, uma ex-vedete que vive às turras com a também dançarina Guida Guevara, de Íris Bruzzi. No passado, as duas disputaram o mesmo rico industrial e Mary levou a melhor. Hoje, Guida não vê a hora de voltar à mídia. Já Mary parece não sentir falta dos holofotes. Longe da ficção, porém, não é bem assim. Sem fazer tevê desde 1999, quando participou do humorístico Balacobaco, da Record, Carmen admite que estava com saudades de gravar 12 cenas por dia, decorar uma batelada de capítulos e, principalmente, ser abordada nas ruas. "Infeliz daquele que não tem quem diga: ‘Olha, gostei de você ou, então, achei uma porcaria o que fez…’ Achou, é? Pelo menos, viu! Isso é que importa…", garante.
P – Você não faz novelas desde Deus nos Acuda. Não estava com saudades?
R – É claro que estava. Quando a Globo reprisou Deus nos Acuda, o Silvio de Abreu me ligou, perguntando o que eu estava achando. Evidentemente, estava adorando. Muita gente, que não tinha visto da primeira vez, me parabenizava pela novela. Esse tipo de coisa é bom para dar uma sacudida na carreira de quem anda sumido da mídia. Há poucos meses, ele me ligou novamente, perguntando se eu não gostaria de voltar a trabalhar com ele. É claro que eu gostaria! Sempre gostei de trabalhar…
P – Fica triste por não ser lembrada por outros autores?
R – Triste? Não. Quem não é visto não é lembrado. O próprio Silvio só lembrou de mim porque reviu Deus nos Acuda no Vale a Pena Ver de Novo. Tenho bagagem, currículo, mas, se não me chamaram antes, é porque não estava na minha hora… Hoje em dia, em qualquer lugar que vá, o pessoal pára para conversar comigo. Já na primeira semana de novela, o público começou a me olhar diferente. Isso é muito bom…
P – Na trama, Mary Montilla vive às turras com a Guida Guevara, interpretada pela Íris. Na vida real, também havia rivalidade entre as vedetes?
R – Ah, havia sim! As ditas "estrelinhas" faziam horrores para conseguir o que queriam. Se preciso fosse, passavam por cima de muita gente e por baixo de outras tantas também… (risos). Como se não bastasse, ainda faziam picuinha, inventavam histórias, essas coisas, enfim, que existem desde que o mundo é mundo. Ou, como se falava no meu tempo, desde que a cobra deu a maçã para Eva…
P – Você foi considerada "hors-concours" entre as muitas "Certinhas do Lalau". Qual é a lembrança mais forte que guarda do Sérgio Porto?
R – O Sérgio tinha uma espontaneidade tremenda. A gente morria de rir com ele. Certa vez, ele respondeu sobre MPB no programa O Céu é o Limite. Naquela época, todo mundo costumava doar o prêmio para uma instituição de caridade. Quando chegou na vez dele, perguntaram: "E então, Sérgio, vai doar o prêmio para crianças carentes?". "Vou sim. Inclusive, tenho três lá em casa que estão precisando de mim…".
P – Seu nome de batismo é Carmelita Varella Alliz. Como virou Carmen Verônica?
R – Pois é, nunca suportei meu nome. Gostaria até que você não colocasse isso na matéria… Quem me batizou de Carmen Verônica foi o Carlos Machado. O Sérgio Porto costumava dizer que Carmen Verônica parecia nome de creche. Mesmo assim, ainda prefiro Carmen a Carmelita. Quando mamãe queria me chatear, só me chamava de Carmelita. Pode?