Carlos Malta rege plateia em baião de um acorde só

440 ciclos por segundo (Hz). É nesta frequência que as ondas sonoras soam aos ouvidos a nota Lá, a mesma que se ouve ao tirar o telefone do gancho e a mesma usada para afinar instrumentos musicais de uma banda ou orquestra. E foi com essa nota que teve início, no último sábado, a oficina Diversidade da Música Brasileira, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Uma só nota pode orientar o universo.

No palco do teatro, no terceiro andar, o mesmo onde o Carlos Malta Quarteto se apresentara na sexta-feira, o multi-instrumentista e maestro Carlos Malta convocou os 22 participantes a preparar seus instrumentos. Eram 3 nos violões, 1 no clarinete, 6 nas flautas transversais, 3 nos saxofones, 1 no triângulo, 4 nos pandeiros, 2 nas escaletas, 1 no contrabaixo, outro no piano. Do quarteto, o baterista Richard Montano, o contrabaixista Guy Sasso e o pianista Daniel Grajew assumiram a zabumba, um pandeiro e uma escaleta, respectivamente.

Após afinar os instrumentos, Malta pediu a Montano para colocar a plateia no ritmo do baião, levando junto pandeiros e triângulo. Depois, ao piano, orientou os violonistas e, em seguida, os 6 flautistas, que aprenderam a tocar uma frase usando a escala de Lá, subdividindo as notas da escala com cada um. Uma frase de resposta foi passada aos saxofonistas, no mesmo acorde. Os saxofones faziam a introdução logo após o início do baião pegar fogo e o diálogo tinha início, independentemente das limitações técnicas de cada instrumentista, mas inspirados pelo maestro e pela companhia dos músicos do quarteto. Além deles, outros caras muito experientes no palco: no piano o compositor Fabiano de Castro e no contrabaixo, JB Arantes.

No meio do som, um flautista começou um solo. O público-banda procurou na plateia a origem daquela música. O maestro parecia feliz e, após alguns compassos, pediu aos saxofonistas o mesmo toque da introdução, bem de leve. Era um sinal para que o flautista concluísse seu raciocínio. Mas ele continuava. Quem gostaria de parar naquele momento? O maestro interrompeu, gentilmente. Mas o fez para dar a mais importante lição: música, principalmente a instrumental, é um diálogo.

Tocar é uma atividade de grupo, de conjunto, onde não há ninguém melhor que o outro, não há instrumento mais importante que o outro, não há erudito nem popular. É o instrumento que escolhe o músico, dizia o maestro. E, para ele, é erudito tanto quem toca zabumba quanto quem toca violino. Minha música, dizia o maestro, é a música das lavadeiras, a música de pessoas simples, assim como Dorival Caymmi, que cantava os lamentos dos pescadores.

E, assim como em um show no ano passado em um antiquário em São Paulo, onde o grupo emocionou um moço simples que estava na portaria, cujo pai construía barcos no Nordeste, do lado de fora do teatro do Sesc no terceiro andar havia um jovem entusiasmado, pintando a parede de azul escuro para uma próxima atração do Sesc. “Aqui tem aula de música também? Aprendi a tocar sax alto na igreja, mas tô parado”, disse o auxiliar de manutenção, Wallace Gonçalves de Oliveira, 26 anos, animado em ver gente com instrumento musical minutos antes do início da oficina. Malta foi logo apresentado ao rapaz e incentivou o moço a continuar assoprando. Tudo Azul. É este o nome do novo disco do Quarteto.

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