Frei Miguel (1921-1997).

Miguel Hilário Bottacin, frei capuchinho, passou pela terra como mensageiro de Deus. Talvez ninguém tenha agido como ele agiu, porque nenhum ser humano é igual ao outro. Mas ele tinha consciência de que era único, que Deus o conhecia pelo nome e isso fazia a diferença. Qual diferença? Ele tratava os outros como seres únicos, inéditos porque eram a imagem de Deus. Muitos desses outros que foram beneficiados por frei Miguel testemunharam uma personalidade enérgica, sem meias palavras, transparente, humana, que não se esforçava para esconder suas limitações, mas fazia delas motivo para agir com maior entusiasmo em benefícios dos outros.

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Ele fazia a fé circular. A fé não era algo abstrato, que ficava presa em um compartimento estanque ou que se localizava na mente, mas era aquela que agia com dinamismo porque se mostrava tão próxima das pessoas que elas mesmas operavam os milagres, especialmente o milagre de acreditar. Crer é o maior milagre que se pode operar. E cada pessoa pode fazê-lo. Quem crê assemelha-se a alguém que vai mergulhar, que fecha os olhos e se atira na água. Frei Miguel ensinava as pessoas a fecharem os olhos e a mergulharem fundo no oceano do amor de Deus, sendo por Ele acolhidas, curadas, rejuvenescidas, porque entregues a Deus.

Quadro de frei Miguel.

Frei Miguel, como o anjo Miguel, foi cheio de bondade, aquela bondade que mexe com as pessoas e faz com que elas se perguntem: alguém se preocupa comigo… Será que tenho tanto valor assim? Toda pessoa humana se sente amada e valorizada quando percebe que o outro a ama com amor transcendente.

Então a fé, ao circular, dinamiza o amor. O amor, ao agir, transforma as pessoas. As pessoas, ao serem transformadas, produzem mais amor que produz cultura da vivência e as mudanças espirituais e sociais.

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Frei Miguel amou plenamente e desinteressadamente as pessoas e continua não só no imaginário social, mas amado. Prova disso vem do Nassib Abdo Abage Filho que contatou o artista plástico Carlos Itsuo Kubo para pintar os quadros de frei Miguel e São Leopoldo Mándich (1866-1942), de quem frei Miguel era devoto.

Kubo nasceu em Lins-SP, aos 6 de setembro de 1949. Começou a pintar em 1970. Hoje o seu trabalho é conhecido em vários estados brasileiros e vários países, com destaque para o Japão, Argentina e EUA. Graduado em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, comenta: ?Através da minha obra, procuro transmitir o otimismo ao espectador; procuro muni-lo de confiança para o crescimento interior?.

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Segundo o crítico de arte, Emanuel von Lauenstein Massarani, ?o que sensivelmente impressiona na pintura do artista é a atmosfera criada pelo seu cromatismo e pela luminosidade que emana de suas obras. (…) A imagem se libera do sonho: permanece unida ao mistério exercendo assim um maravilhoso poder de atração?.

Carlos Kubo.

De acordo com frei Carlos Gonzaga Vieira ?a arte é uma beleza que nos leva a Deus. Percebi que a mensagem do quadro de frei Miguel foi além da comunidade, pois outras pessoas foram envolvidas, tornaram-se simpatizantes do frei Miguel?.

Mas o detalhe é que Carlos Kubo, talvez influenciado pelo carisma de frei Miguel, cobrou a metade do valor total para pintar os dois quadros. Com este ato do artista, um quadro ficou de graça. Generoso, Nassib Filho arcou com a despesa. Assim, tanto Nassib quanto Kubo mostraram generosidade.

Os quadros podem ser vistos na Capela São Leopoldo Mándich, Rua Santa Eulália de Barcelona, 273, bairro Cidade Industrial em Curitiba, Conjunto Osvaldo Cruz I.

Jorge Antônio de Queiroz e Silva é pesquisador, historiador, professor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

queirozhistoria@terra.com.br