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‘Cargas D’Água – Um Musical de Bolso’ exibe inúmeras qualidade

Uma das certezas que rodeiam os musicais garante que qualidade é diretamente proporcional ao investimento da produção. Um pequeno mas valoroso espetáculo em cartaz em São Paulo desponta como honrosa exceção – Cargas D’Água – Um Musical de Bolso, em cartaz em curta temporada no Espaço Cia da Revista, é uma pequena joia a ser descoberta, desde a qualidade de seu texto até a singela interpretação de seu trio de atores.

Escrito por Vitor Rocha, autor também de Casusbelli, o musical traz um toque de brasilidade que, curiosamente, não o torna um produto com interesse regional. A história se passa no sertão mineiro, onde um menino perde a mãe e é obrigado a viver com o padrasto. Este, egoísta e mandão, trata o garoto somente por “moleque”, a ponto de o menino se esquecer do próprio nome e responder apenas por Moleque.

O consolo, ele encontra em um peixe que, ao se recusar a matar, torna-se o principal amigo de Moleque. Vivendo em um balde, o bicho ganha o nome de Cargas D’Água, expressão que escuta do padrasto e que imediatamente caiu no seu agrado.

Carregando o balde pela imensidão do sertão, Moleque quer chegar até o mar, onde finalmente dará a liberdade para o amigo. No caminho, ele vai encontrar personagens tão peculiares quanto ele, como o homem que oferece lágrimas em pequenas garrafas – a primeira foi preenchida justamente a partir de seu próprio choro.

Vitor Rocha nasceu em Minas Gerais, quase na fronteira com São Paulo. Bom ouvinte, alimentou-se da prosódia mineira ao longo de sua juventude, uma forma peculiar de falar em que a poesia ornamenta as palavras. “Inicialmente, pensei em escrever um monólogo – apenas Moleque e o balde. Mas, aos poucos, percebi que a jornada até o mar exigia a presença de outros personagens”, conta ele, cuja imensidão do talento contrasta com sua pouca idade: 20 anos.

Assim, além do vendedor de lágrimas, Moleque, ao longo de sua jornada, conhece Charles e Pepita, casal que comanda um circo em decadência – os demais atores abandonaram a companhia à medida que o público minguava.

Acolhido, Moleque não apenas ganha uma função artística como finalmente toma o rumo do mar. Com dez músicas compostas por Rocha (que também assina a direção), Cargas D’Água garante a aprovação da plateia logo em seus minutos iniciais, quando seus supostos defeitos (cenário reduzido a caixotes, ausência de música ao vivo, figurinos suntuosos) são transformados em qualidade graças à imaginação criativa.

Rocha se divide em vários papéis, como o Padrasto, o vendedor de lágrimas e, finalmente, em Charles. O envolvimento com que se dedica a cada um, além de revelar uma voz acolhedora, transforma sua presença em cena em um espetáculo à parte. Ana Paula Villar é Pepita, entre outros papéis, e desperta uma simpatia imediata, graças especialmente a seu sorriso encantador.

Moleque ganha interpretação de André Torquato. Brasiliense, despertou atenção da crítica ao participar de Gypsy, maravilhoso musical dirigido e concebido por Charles Möeller e Claudio Botelho, em 2010. Ele ainda participou de As Bruxas de Eastwick, O Mágico de Oz e Priscilla – Rainha do Deserto antes de viajar para os EUA, onde permaneceu por cinco anos.

Retorna agora mais amadurecido, mas com o talento intacto – além de uma voz cristalina, exibe os trejeitos que tornam Moleque um personagem encantado. Cargas D’Água torna sua volta em um momento único e triunfal.

CARGAS D’ÁGUA – UM MUSICAL DE BOLSO

Espaço Cia da Revista. Al. Nothmann, 1.135; 3791-5200. Dom., 15h. R$ 30 e R$ 60. Até 27/5

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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