Com a proximidade da cerimônia do 78.º Oscar, mais um filme indicado estreou nos cinemas de Curitiba este final de semana. Com baixo orçamento e filmado em pouco mais de um mês, Capote é um filme surpreendente e concorre ao Oscar em cinco indicações: Melhor filme, Melhor direção (Bennett Miller), Melhor roteiro adaptado (Dan Futterman), Melhor atriz coadjuvante (Catherine Keener), e com uma atuação perfeita, Philip Seymour Hoffman é um dos favoritos ao prêmio de Melhor ator.
A obra é baseada no livro O jornalista e o assassino, de Janet Malcom e na biografia autorizada do jornalista e escritor norte-americano Truman Capote, escrita por Gerald Clarke. No círculo intelectual dos Estados Unidos a partir da segunda metade da década de 50, Capote é um dos autores mais discutidos nos Estados Unidos. Gay confesso, com hábitos excêntricos e uma voz fina, ele também é conhecido pelas suas habilidades profissionais e a extraordinária ambição.
Acostumado a freqüentar as altas rodas repletas de coquetéis e referências intelectuais, o futuro do escritor dá um salto quando lê a notícia do homicídio da família Clutter, em Holcomb, no Kansas, em 1959. Ao notar o potencial que aquela notícia poderia ter, Capote entra a fundo no caso mantendo contato direto com os assassinos (Perry Smith e Dick Hickock), presos e condenados à morte, e com o agente de investigação Alvin Dewey (Chris Cooper). A também escritora e sua amiga de infância Harper Lee (Catherine Keener) o acompanha até o Kansas para o ajudar. Logo de início Capote se pergunta sobre o impacto que a chacina repercute naquela pequena cidade.
Enquanto o escritor fica cada vez mais próximo do homicida Perry Smith, chegando a passar horas e dias seguidos conversando e tomando notas, também revela sua angústia em terminar sua história e ver toda a situação acabar. Capote retrata duas Américas distintas; ao analisar suas semelhanças com a de Perry Smith, enxerga o país seguro e protegido como o da família Clutter, e aquele habitado por assassinos e homens sem destino como os dois assassinos.
O caso realmente culminou na morte dos assassinos, em 1965, e na publicação de A sangue frio (In cold blood) em 1966, livro que revolucionou a maneira de se escrever dando origem ao chamado romance de não-ficção, como o próprio Capote denominou o estilo. O forte do gênero era abordar um fato real e descrevê-lo com todas os requintes que o romance permite. Logo na primeira página ele transporta o leitor para o cenário do crime. "A terra é plana e os panoramas são incrivelmente extensos; cavalos, rebanhos de gado e um aglomerado branco de silos de cereais que se elevam com a graça dos templos gregos são visíveis muito tempo antes que o viajante os alcance". Em uma cena ele confessa a seu editor que algumas vezes mal podia respirar quando pensava o quão bom o livro poderia ficar. A publicação da obra o tornou o escritor mais famoso da América daqueles anos.
O que não é tão divulgado e que o filme bem retrata, é o desgaste e sofrimento que Capote sofreu durante os seis anos que viveu para a publicação do livro. Foram meses de conversas com Perry e espera por um final que só chegaria com a execução dos assassinos. Em um momento ele nem consegue levantar da cama. No dia marcado para a execução, ele se sentiu deprimido pela forma como usou Perry para escrever seu principal livro, iludindo-o com amizade.
Interpretando Capote com maestria, Hoffman foi além dos maneirismos femininos e da voz infantil – ele reproduziu a figura de um homem genial e controverso que, com uma nota de rodapé de jornal, publicou um dos livros mais falados na segunda metade do século 20. Truman Capote faleceu em agosto de 1984 devido aos problemas decorrentes do excesso de álcool.