Capista: profissão para quem é criativo

São Paulo (AE) – Antes das incorporações de pequenas editoras por grandes conglomerados, resultante do processo de globalização, livros não eram tratados como simples produtos de consumo massivo e capas não eram assinadas por escritórios de design. Existiam pessoas físicas, marcos de referência do mundo editorial, pensando a tipografia, o desenho e a identidade das capas. Reconhecia-se, enfim, a paternidade visual de um livro. João Baptista da Costa Aguiar é desse tempo. E continua como um dos últimos designers – ao lado de nomes como Moema Cavalcanti, Ettore Bottini e Raul Loureiro – cujo trabalho autoral é reconhecido de imediato por uma legião de leitores que já se acostumou, por exemplo, a identificar Paul Auster pelas capas de Costa Aguiar.

Há 40 anos atuando na área de artes gráficas, o artista vai ser homenageado, no dia 28, com o lançamento de um livro pela editora Senac e uma exposição de seu trabalho gráfico no Instituto Tomie Ohtake.

No mesmo dia, Moema Cavalcanti estará na Universidade do Livro ministrando uma oficina sobre a criação de capas de livro destinada a profissionais, assunto que parece novamente merecer a atenção do mundo editorial. Bom sinal. Simultaneamente, no Centro Cultural São Paulo, está sendo realizada a exposição Prontos para Ler, que reúne 300 livros editados na Espanha entre 2000 e 2005, mostrando exatamente como as transformações econômicas no País trouxeram com elas uma mudança radical no processo de produção de capas. A Espanha, como se sabe, costumava ser – e o tempo do verbo se justifica – o celeiro gráfico da Europa, com revistas experimentais como El Paseante, editores refinados como Jacobo Siruela e designers gráficos do nível de Daniel Gil, diretor artístico da Alianza Editorial.

Costa Aguiar é o correspondente brasileiro de Daniel Gil. Há 40 anos ele estava participando da nona edição da Bienal de São Paulo ao lado dos grandes nomes da arte pop americana. Há 30 desenhava cartazes para o cinema marginal produzido na Boca do Lixo, em São Paulo. Há 20, era diretor editorial da revista Vogue. Como se vê, experiência profissional (eclética) ele tem de sobra. Autodidata, começou a desenhar capas de livros quando o Brasil nem sabia o que era um designer gráfico e Eugênio Hirsch dominava, solitário, a área, assinando todas as capas da editora Civilização Brasileira. Foi quando o editor Luiz Schwarcz, em 1987, ao criar a Companhia das Letras, convidou Costa Aguiar para desenhar o logotipo da nova editora, que já começou revolucionando. No lugar de uma, o designer apresentou várias propostas, todas aceitas e identificando até hoje diferentes coleções da editora.

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