O caos e a criação estão fazendo uma festinha no fundo do quintal. Chega amanhã (8) às lojas o novo disco de Sir Paul McCartney, "Chaos and Creation in the Backyard" (EMI), trazendo 13 novas músicas de um dos maiores compositores do século passado. É o 20.º disco de estúdio de McCartney, que estava há quatro anos maturando canções – o último foi "Driving Rain", de 2001.
"Há uma linha tênue separando indecisão e coragem", canta Macca no primeiro verso da primeira faixa do álbum, "Fine Line", na qual o teclado parece encantado, uma volta ao tempo em que ele imaginava criar a trilha sonora de seu tempo. "Foi como fazer um carrinho de rolimã no quintal", definiu "Macca".
Há de fato diversos brinquedos artesanais no disco. Sinos psicodélicos, pianinho e piqueniques em jardins floridos fazem a delícia da melhor faixa, "English Tea". Alguém aqui ouviu e disse: "Isso parece Beatles, mas deve ser uma dessas bandas modernas que imitam Beatles." Bingo! Essa casca moderna por cima certamente vem da produção de Nigel Godrich, darling de Radiohead e Beck.
Certamente, você não vai encontrar uma coleção de canções como essa nos discos que estão saindo por aí, não com esse acabamento. Confira a inacreditável melodia da balada acústica batizada de "Jenny Wren", Beatles total, "filha de ‘Blackbird’", como definiu Paul. "Jenny Wren" é o nome de uma famosa boneca de porcelana.
"A Certain Softness" é meio aflamencada, um pop multicultural. "How Kind of You" soa meio gospel, com um violão marcado, taquicardíaco. E a dolorosa "Too Much Rain" parece profética, poderia ter saído do meio das ondas do furacão Katrina. "Mas, por enquanto, diga a si mesmo que não vai acontecer de novo/Não é certo, em uma só vida/Chuva demais."
No álbum, Paul toca todos os instrumentos, incluindo baixo, piano, violões, guitarra, flugelhorn e gaita – algo que ele só fez no seu disco-solo de 1970, Paul McCartney. Mas, como Sir Macca anda dizendo que costuma "conversar" com John Lennon em alguns momentos, quando está compondo, há uma canção que pode ilustrar essa ajuda do Além: "Follow Me". Vejam a letra: "Você eleva meu espírito, ilumina minha alma/Quando estou vazio, você me faz sentir preenchido", canta Paul.
"Normalmente, eu costumo dizer: quero fazer um bom álbum. Dessa vez, havia motivação, determinação. Eu ia fazer um bom disco. Eu ia fazer, e aqui está ele", diz McCartney. De todos os Beatles, Ringo e Paul são aqueles que ninguém jamais imaginou terem a alma atormentada. Mas Paul mostra aqui que conhece os dilemas do espírito. "Há um longo percurso entre o caos e a criação/Se você não disser qual é sua escolha/É um longo percurso, e cada contradição parece dizer que você pode perder o bonde nesse joguinho."