Acabo de ler Canudos: a guerra social, livro escrito por Edmundo Moniz. Na primeira orelha da obra, Canudos aparece definido como a primeira guerra social e a primeira história sobre o movimento sertanejo que mobilizou todo o País e teve seu ponto culminante no final do século XIX.
Essa história tem como personagem central Antônio Conselheiro, na verdade, Antônio Vicente Mendes Maciel, um cearense nascido em 1828.
Numa sociedade semifeudal, os poderosos fazendeiros se mantinham acima da justiça e das leis, na qual promotores e delegados eram meros instrumentos dos chefes políticos.
Canudos foi o resultado da burguesia ter chegado ao poder com a proclamação da nossa República e a não-realização da prometida reforma agrária, já naquele tempo.
O que mudou a vida de Conselheiro foi o fato de sua mãe tê-lo convencido de que sua mulher o traía. E para se certificar, inventou que faria uma viagem. Contou à mulher que estaria fora por alguns dias e ficou vigiando os arredores da própria casa. Já noite, viu um vulto junto da janela e, imaginando ser o denunciado amante, matou-o com um tiro de espingarda. Ao se aproximar descobriu que havia matado a própria esposa. Essa é a lenda. Na verdade, a esse tempo ele tinha apenas seis anos.
Conselheiro cresceu, sempre portando um crucifixo e repetindo palavras de Santo Agostinho, começou a reunir adeptos que viam nele uma vítima do poder despótico da Bahia e o procuravam em busca de conselhos. Daí Antônio Conselheiro. Em torno de quem também se criou uma mística religiosa. Ninguém sabe explicar como, já que ele não teve estudos, mas Conselheiro citava frases inteiras em latim. Com a abolição da escravidão e com a proclamação da República, um ano depois, muitos escravos se juntaram a Conselheiro.
Com a autonomia dos municípios, as Câmaras aprovaram editais para a cobrança de impostos. O povo reagiu, pois os impostos eram apenas sobre os mais pobres. Ninguém ousava cobrá-los dos grandes proprietários.
Quando recebeu a queixa, Conselheiro aguardou um dia de feira e, entre foguetes, mandou arrancar e queimar os editais. Em Bom Conselho.
As autoridades de Salvador mandaram várias tropas para prender Antônio Conselheiro, sem sucesso, e ele se preveniu, refugiando-se numa região denominada Arraial do Monte, habitada apenas por ele e seus adeptos e que passou a ser chamada de Canudos, que era o nome de uma fazenda abandonada, quando ele ali chegou no ano de 1893.
Ali ele construiu uma igreja e a cidade chegou a ser a mais habitada da Bahia em determinada época. Conselheiro ampliou sua popularidade a partir do momento em que começou a proclamar: “A terra não é de ninguém. A terra é de todos!”.
Conselheiro, com mais de 70 anos, morreu de morte natural, mas para o governo isso não bastava. E armados de canhões e baionetas, os soldados não deixaram em Canudos pedra-sobre-pedra, como determinou o poder oficial.
P.S
. – “Só há um bem, o conhecimento. Só há um mal, a ignorância”. (Sócrates, citado por Diógenes Laércio.)