São muitas crianças do pop reivindicando um lugar ao sol: Iggy Azalea, Kesha, Lorde, Lana del Rey, Miley Cyrus, Kimbra, Nicki Minaj e sua Anaconda. Cada temporada, um truque novo. Miley Cyrus e sua bolinha de demolição escorregadia foram uma das últimas traquinagens bem-sucedidas.
O escritor J.D. Salinger, notório ermitão da literatura, criou em sua obra Nine Stories (1953) o tipo de modelo para o rebelde clássico da cultura pop das décadas seguintes. Seu personagem Seymour Glass era uma figura angustiada que crescia num ambiente de astro mirim (todas as crianças da família Glass foram estrelas do programa de rádio It’s a Wise Child). Boa parte dos desajustados, melancólicos, alienados e rebeldes dos anos seguintes pareceria espelho dessa inadequação silenciosa dos irmãos Glass. Filhos de uma cultura massiva, explorados ainda infantes numa era que começava a ser a da hiperexposição, do hedonismo em cadeia, eles iam surgindo, disparando em TVs em hotéis, estourando Porsches em desfiladeiros e desaparecendo com a mesma velocidade com que surgiam.
Os “rebeldes” da era do Facebook parecem exacerbar ainda mais essas características. Hoje já há mais fotos circulando das fichas policiais de Justin Bieber do que letras de música do Justin na internet.
De certa forma, o Clube do Mickey parece ter substituído o fictício It’s a Wise Child de Salinger na construção de uma nova galáxia de desajustados. Britney Spears, Justin Timberlake, Christina Aguilera, Ryan Gosling e Nikki DeLoach participaram do programa entre 1993 a 1995, ano em que acabou. Já Miley veio do seriado Hannah Montana. Para tentar exorcizar o currículo coxinha, elas tentam radicalizar o coté periguetinha . Curioso notar que aqui no Brasil não deu certo: Sandy e Wanessa, apesar de tentadas, são muito família.