O homem de frente do Pearl Jam com um banquinho e uma espécie de cavaquinho na mão pode parecer uma heresia para um roqueiro fundamentalista, certo? Mas acontece que as incursões solos de Eddie Vedder nunca enveredaram exatamente por algum caminho de “pureza” musical – ele já foi tão longe em sua curiosidade que gravou com o notável paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan, em 1995.

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Voz mais bonita e profunda de sua geração roqueira, Eddie Vedder elevou o berro a uma categoria melódica e a canção pop ao suprassumo do artesanato.

Vedder gravou em 2011 um disco, Ukulele Songs, cantando e tocando apenas o ukulele, um tipo de cavaquinho havaiano, trabalho que foi indicado para o Grammy de Melhor Álbum Folk pela ousadia. Tinha ali convidados extraordinários, como Cat Power. O som do cavaquinho é meio monolítico, não permite um leque muito aberto de possibilidades expressivas na música, mas Vedder o “moldou” à sua visceralidade romântica, e o resultado é muito interessante.

É esse trabalho que ele apresenta nesta terça-feira, 06, em São Paulo. A princípio faria três shows no País, começando com esses desta terça, e quarta-feira, 07, no Citibank Hall. Mas, por conta da grande procura, uma data extra foi marcada no Rio para o dia 12 (já tinha lá um show no dia 11). Todas as apresentações contarão com show de abertura de Glen Hansard (do grupo irlandês The Frames e ator no filme Loucos pela Fama – The Commitments, dirigido por Alan Parker em 1990).

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Segundo contou Vedder, o uso do ukulele começou como um exercício de composição que ele tinha intenção de manter apenas para consumo próprio. “Começou como uma brincadeira, e depois foi se tornando um pouco como um desafio, um quebra-cabeças. É como pintar com uma única cor”, explicou.

O instrumento base do show requer a criação de uma atmosfera intimista. “É difícil ser sutil quando a fila de trás da plateia está a 180 metros de distância”, disse o cantor, hoje com 49 anos, a respeito da decisão de fazer shows em lugares menores do que sua banda geralmente faz.

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Mas o fato é que o povo que esgotou os ingressos para ver Vedder vai com a esperança de ouvir Pearl Jam. E vai sair satisfeito. Pelo menos uma canção está garantida de cara, porque está no disco: Can’t Keep. As que também deverão estar no repertório são Porch e Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town, que estão entre as mais tocadas em sua turnê recente pela Austrália. Entram na seara das concretas possibilidades as seguintes: I Am Mine, Dead Man, Speed of Sound, Better Man, Arc, Sometimes, No Ceiling e Just Breathe.

Vedder também enche de generosidades adicionais o show. Além da cover dos Beatles You’ve Got to Hide Your Love Away, ele tem no bolso do colete as seguintes versões: Masters of War, de Bob Dylan; Rockin’ in a Free World, de Neil Young; Drive All Night, de Bruce Springsteen; e Hard Sun, de Indio, codinome do músico Gordon Peterson (com a presença de Glen Hansard no palco).

Eddie Vedder esteve com o Pearl Jam em São Paulo no Lollapalooza Festival, no ano passado. O show foi marcadamente mais punk rock, bem mais pesado do que fora o anterior, no Morumbi, em 2011. Agora, o lance é principalmente no gogó.

Sozinho ou com o Pearl Jam, Eddie Vedder segue desafiando diversos dogmas do rock. Primeiro, a “norma” que diz que é interditada a coerência ética e estética a uma megabanda de rock – 23 anos de carreira, mais de 60 milhões de discos vendidos.

Apesar desse cartel, sua independência parece inegociável. São famosos seus cancelamentos de contratos por conta de patrocínios de produtos que ele considera danosos à população, ou por conta de uma atitude política.

Segundo: Vedder insurgiu-se contra a superficialidade, o congelamento progressivo da relação entre artista e seu público. Sua entrega em cena é total, um ato que reafirma o tempo todo a essencialidade da arte, sem afetação ou efeitos milionários. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.