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Cantando de Galo destaca a luta do fraco contra o forte

É tão raro um longa de animação mexicano chegar ao Brasil que, só por isso, Cantando de Galo deve merecer alguma atenção. No original, chama-se Un Gallo con Muchos Huevos, o que é intraduzível. Segundo a trama, e o título faz alusão a isso, o tal do galo deve ser muito macho mesmo para se desincumbir da missão para a qual é chamado.

O desenho é ok, a história vem pontuada por elementos pouco usuais em produções atuais destinadas a crianças, e certas cenas têm lá sua graça. A história é apresentada pelo cotidiano de uma simpática granja, na qual os animais vivem em harmonia com uma proprietária simpática. O “anti-herói” é um frango que desponta para a maturidade e prepara-se para dar seu primeiro canto de galo, saudando a manhã. O frangote parece ter as cordas vocais pouco desenvolvidas e desafina de forma lamentável, atormentando os tímpanos de todos seus colegas de mundo rural.

O conflito surge quando a dona da fazenda se vê atolada em dívidas, o que talvez a obrigue a vender a propriedade. A única saída é partir para o desafio com um galo valentão e temido, ganhar a aposta e restabelecer a segurança no terreiro. Quem é designado para representar os moradores? Sem dúvida, o simpático frangote, que não consegue nem cantar e atende pelo nome de Toto.

Dito isso, é forçoso reconhecer em Cantando de Galo uma antologia de clichês. A começar pelo tema central, a luta do fraco contra o forte, sendo o primeiro representante do Bem e o segundo, do Mal. Temos tendência a torcer pelo mais fraco, daí que o filme já sai com esta vantagem. Jogo certo, mas passa longe da originalidade.

Depois, o longa leva o espectador ao mundo do pugilismo que, como é exercido por galináceos, remete às rinhas de galo, atividade proibida em vários países, porém invariavelmente tolerada em razão de longas e renitentes raízes culturais. Basta percorrer o interior do Brasil para ver como são populares as rinhas. Em países hispânicos, dá-se o mesmo. Pode não ser lá uma atividade louvável, e não é, mas existe, e o filme não foge a essa realidade.

Esse é um subtexto, importante porque “normaliza”, no inconsciente infantil, a tolerância com a violência. Pelo menos, esta é uma vertente crítica. A outra sustenta que ao longo do processo de formação não se deve esconder o que existe de mal no mundo. Mesmo porque a “mensagem” positiva do filme é que as melhores intenções acabam por triunfar, ainda que use as mesmas armas do oponente.

O que mais vale notar, no entanto, são as características do desenho. Não é de forma alguma notável, mas, pelo menos, não tenta imitar animações mainstream da Disney. O desenho de Gabriel e Rodolfo Riva Palacio Alatriste pode parecer até um tanto tosco para espectadores habituados à “limpeza” dos desenhos made in USA. Como a história corre por trilhos às vezes pouco habituais, o filme propõe uma experiência audiovisual pelo menos diferente para quem já se encontra saturado da mesma dieta, servida ano após anos em tempo de férias.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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