O festival tem vivido nos últimos anos o que se pode chamar de contradição. Se é verdade que as mulheres reinam na montée des marches – o chamado ‘tapete vermelho’, até porque um dos patrocinadores, o principal deles, é a marca L’Oréal -, elas não têm o mesmo status dentro do Palais. Há, todos os anos, muito mais homens concorrendo à Palma de Ouro. A edição de 2015, de número 68, não muda o quadro, mas Cannes penitencia-se atribuindo sua Palma de Ouro de carreira para Agnès Varda. Viúva e eterna sacerdotisa do culto ao marido, o ícone da nouvelle vague Jacques Demy, Agnès faz parte da história de Cannes, mas o prêmio parece agora um reconhecimento tardio a uma dama que marcou a história do cinema com filmes como Cléo das 5 às 7 e Le Bonheur/As Duas Faces da Felicidade.

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A objetalização das mulheres como ornamentos no tapete vermelho tem sido um embaraço para Cannes, que nesta quinta-feira, 14, acolhe Charlize Theron, a Imperatrix Furiosa que vem mostrar o novo Mad Max, Estrada da Fúria. Na tela – o filme estreia nesta quinta nos cinemas brasileiros -, Charlize radicaliza e até rouba a cena de Mad Max, convertendo-se na protagonista da nova aventura da saga criada por George Miller.

É uma Charlize viril, masculinizada, com certeza diferente daquela que vai subir o tapete vermelho, muito mais conforme com o ícone que tem ajudado a transformar J’Adore num dos perfumes mais consumidos do mundo. Tem havido discussão aqui na França, até porque o antigo presidente, Gilles Jacob, usava a coletiva paras discutir o estado do cinema no mundo e o novo (presidente), Pierre Lescure, ex-Canal +, usou sua fala para enaltecer os patrocinadores, que chamou de ‘partenaires’, parceiros. Mas nada tem causado tanta celeuma quanto a condenação do selfie aqui em Cannes.

Thiereryu Frémaux, diretor artístico e responsável pela seleção oficial (competição Un Certain Regard) do evento, comprou uma briga ao dizer que os selfies são ridículos e grotescos. A questão é – os selfies fazem parte da vida das pessoas e tornaram-se obrigatórios nos lugares dito turísticos. Dentro do Palais, onde os telefones são proibidos, o selfie é impensável.

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E na montée des marches? Como convencer o público a não ceder à tentação do selfie? Vai ser difícil, porque, ao mesmo tempo que Frémaux desestimula, L’Oréal criou Twicer, uma aplicação do iPhone com vídeos sobre os bastidores dos astros e estrelas, mostrando como elas e eles são maquiados e vestidos. A ideia é estimular o público a vivenciar o festival como se estivesse nele. Nesse quadro, como coibir o selfie?