De repente, não é mais o mundo, os astros, Deus ou o diabo. A experiência dolorosa que viveu no leito de um hospital por problemas nos rins colocou primeiro Gilberto Gil na iminência do fim, a parte desagradável da vida que ele declama temer em seu ato e não no que vem depois, para lhe dar, então, o gosto de um recomeço. O Gil de Ok Ok Ok, primeiro disco com inéditas desde Fé na Festa, é a criança e o velho, mais o pai, o filho, o avô e o frágil marido que faz um pacto de oração com a mulher em Prece do que o sábio cansado da demanda por todas as respostas de Ok Ok Ok. Ao voltar para a família e ver a casa cheia, a vida não precisa mais de teorias.
Gil faz canções belas e finitas, em todos os sentidos. Sereno, um samba para o nascimento do neto, tem o tamanho de um carinho. Uma Coisa Bonitinha, com João Donato, é uma ternura cheia de graça à mãe e à avó.
Yamandu, a declamação generosa ao violonista ligeiro. Sol de Maria, um forte e emocionado abraço na bisneta. Gil tem cinco anos quando brinca nos fonemas de Tartaruguê e 76 ao se lembrar da inconveniência de um fim que insiste em chegar na melhor parte da existência com o samba Jacintho.
Se as novas canções ficarão na história? Não se sabe, mas a história não importa mais a Gilberto Gil do que a eternidade do amor de sua família.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.