Gustavo Haddad e Bianca
Castanho: momento crítico.

“A rapadura é doce mas não é mole”, afirma um ditado popular que tem tudo a ver com a situação dos protagonistas de Canavial de Paixões. Se não bastasse a prevista concorrência com a “bombada” Celebridade, da Globo, Bianca Castanho e Gustavo Haddad vão precisar superar a falta de dois colegas. Victor Fasano e Cláudia Ohana dão as caras na nova adaptação do SBT só até terça, dia 21. É um risco que todo protagonista corre quando uma trama tem uma fase inicial, em que ele não aparece, antes de chegar a história de fato. Principalmente quando a dita fase inicial cai nas graças do público. O primeiro capítulo de Canavial de Paixões, por exemplo, rendeu a boa média de 12 e o excelente pico de 16 pontos.

Exibida entre 20h40 e 21h20, Canavial de Paixões teve mais audiência que a Record, Band, Rede TV! e TV Cultura juntas. E em um horário que debate com o tradicional Jornal Nacional e logo depois com a incensada Celebridade. Por isso, vai ser fundamental que Gustavo e Bianca consigam que o público torça pela união de seus personagens. Nesse sentido, a pegada mais pesada de Gilberto Braga vai ajudar a realçar a pureza do casal de Canavial. Enquanto os personagens do SBT trocam flores, o vilão e a vilãzinha de Márcio Garcia e Cláudia Abreu trocam safanões antes da transa na novela global. A produção do SBT é o reverso de Celebridade e é nessa diferença de estilo que a própria emissora de Silvio Santos está apostando.

Mas infelizmente a performance do elenco de Canavial de Paixões é irregular. Victor Fasano estava pouco convincente na pele do poderoso Amador Giácomo, por exemplo. Já Cláudia Ohana estava a vontade como a enigmática Débora. A atriz ficou bonita nas estampas floridas da personagem e se adaptou bem ao texto nada profundo da novela. Enquanto isso, a colega Helena Fernandes ainda está procurando o tom da vilã Raquel e Jandir Ferrari defende bem o pacato Fausto. Mas quem está “em casa” é mesmo Débora Duarte. Na pele da afetada Teresa, a atriz tem a performance mais convincente do elenco.

Enquanto mostra ter evoluído em alguns pontos, como a abertura da novela e o figurino, em outras áreas o SBT ainda deixa a desejar. É o caso, por exemplo, da edição final das cenas. É comum aparecer uma parede ou uma porta por um tempo longo demais até aparecer um ator entrando no plano da câmara. Já a trilha sonora é capaz de reunir Elis Regina, Sérgio Reis e a dupla sertaneja Sérgio e Júnior cantando a música-tema composta por Moacyr Franco.

O mesmo acontece com a sonoplastia. Tudo bem que é uma característica dos “dramalhões”, mas a emissora bem que poderia tentar abrasileirar este item e não seguir tão milimetricamente a cartilha mexicana. É muito chato todas as cenas terem fundos sonoros e todo desfecho de diálogo culminar com uma orquestra em tom estridente. E o pior, o volume sempre é um “dedinho” acima do indicado. A diferença de qualidade entre as cenas feitas em estúdio e em externas também é gritante. Ainda mais no início da novela, quando o volume de externas é bem maior. É incrível, mas as sombras ainda persistem nas imagens e a luz – que pode ser controlada em estúdio – é de uma frieza digna de telejornal.

Belezas

Para compensar, Canavial de Paixões traz bonitas tomadas de pássaros e flores e do canavial. Pode compensar o gosto duvidoso da maioria dos cenários dos estúdios apresentados na novela e contrastar com a trama urbana da Globo. Mas como já é previsível em tramas tão centralizadas na protagonista, é Bianca Castanho que vai ou não fazer realmente a diferença.

A beleza angelical da atriz pode ajudar a convencer na pele de Clara, já que a personagem é uma típica heroína romântica. No entanto, ela vai ter de mostrar talento para brilhar dizendo um texto adocicado como uma rapadura, que é feita da mesma cana que movimenta a economia da fictícia São Bento dos Canaviais, onde se passa a trama. Tudo para não entregar a rapadura – ou melhor, a audiência – para o sempre prestigiado Jornal Nacional e a aparentemente “pegadora” Celebridade.

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