Jonathan Haagensen começou sua carreira no grupo Nós do Morro, criado na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, onde ele mora até hoje. Como vários de seus amigos participavam do projeto, ele resolveu seguir a turma. Uma atitude normal para um garoto de 15 anos, sua idade na época. ?Queria ficar por dentro das conversas?, assume. Em 2001, iniciou a carreira no cinema no papel de Cabeleira, um bandido de bom coração em Cidade de Deus.
Neste ano, ele estreou em uma trama das oito, Paraíso tropical, como o aprendiz de trambiqueiro Cláudio e aguarda a chegada aos cinemas de nada menos que quatro filmes, os longas Embarque imediato, Noel, Poeta da Vila e Cidade dos homens, além do curta Vendedores. ?Graças a Deus dou muita sorte de estar sempre envolvido em bons projetos?, vibra.
P – Apesar dos nove anos de carreira, sua experiência em tevê até Paraíso tropical era muito pequena. É muito diferente de fazer cinema?
R – O Cláudio é um personagem gostoso de fazer, bem oposto a mim. É um cara agitado. Eu, não, tenho meu próprio tempo. Aliás, isso às vezes é um problema em televisão, que tem um tempo muito rápido. Mas a arte da interpretação resume-se à experimentação de coisas que você desconhece. Estou adorando aprender essa técnica, que é bem diferente do teatro e do cinema. Além disso, é maravilhoso estar no elenco de uma novela do Gilberto Braga.
P – Como conseguiu o papel?
R – O próprio Gilberto me chamou. Estavam testando alguns profissionais para outros papéis, mas aí ele achou que eu seria a pessoal ideal para esse personagem. Conversamos, eu curti a proposta e nem precisei de testes. O Gilberto conhecia meu trabalho por causa da minha carreira no cinema.
P – Cidade de Deus foi seu primeiro trabalho de projeção na mídia. Como você chegou ao filme?
R – A Kátia Lund, co-diretora do filme, já conhecia o Guti Fraga, do Nós do Morro. Ela o convidou para ser preparador de elenco e eu, um dos integrantes, acabei ganhando um papel. Na época que nós fizemos o filme, sabíamos que seria uma produção diferente, mas não tínhamos idéia do sucesso que alcançaria. O mais legal foi o tapa dado no preconceito. Eu sei que sou negro, mas ninguém fala ?ator branco?. Sou capaz de fazer qualquer personagem. Ainda tenho que fazer muito para mudar esse preconceito que a sociedade criou e se abateu sobre ela mesma. Mas não gosto de discutir sobre ele porque é uma forma de alimentá-lo. As pessoas que moram no Vidigal e no Leblon têm os mesmos sonhos, mas a sociedade só dá direito de realização a alguns.
P – Quando você decidiu entrar no grupo?
R – Eu tinha 15 anos e estudava em uma escola no Vidigal. Todos os meus colegas eram do grupo e só falavam nisso. Eu ficava fascinado, eram pessoas tão novas falando sobre direção, produção… Eu era o único que ficava de fora. Quando resolvi participar, não pensava exatamente em ser ator, mas queria mesmo entrar para o grupinho. Na época, era um projeto menor, bem regional. Hoje, há pessoas de todo o Brasil e até de outros países querendo participar. Tem gente que pode pagar um curso em Nova York, mas vem fazer aqui. No Nós do Morro, agora, tem aulas de tudo, de sapateado a circo. Não há outra escola popular como essa.
P – Você ainda mantém alguma relação com o projeto?
R – Continuo aluno. O objetivo do grupo é formar seres multiplicadores e profissionais qualificados para o mercado. Só não dou aulas porque, para ensinar, tem que ter o dom. Vão surgindo sempre novos multiplicadores, que suprem essa necessidade do grupo. Continuo fazendo aulas, só não me envolvo mais porque falta tempo de fazer peças.