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Calendário Pirelli ganha aura cinematográfica com fotos do escocês Albert Watson

No momento em que a força feminina se impõe em todos os setores da sociedade, culturais ou não, por meio da ação de movimentos como o #MeToo, muitos profissionais vem se posicionando de forma a não serem injustamente atacados. É o caso do veterano fotógrafo escocês Albert Watson que, ao longo de uma carreira de mais de 40 anos, consagrou-se com imagens de moda, celebridades e arte, a maioria em preto e branco. Ele fotografou para mais de 100 capas da revista Vogue em todo o mundo, além de outras 40 para a Rolling Stone, participando ainda de grandes campanhas publicitárias para marcas como Prada, Chanel e Levis. Foi com esse currículo que Watson foi convidado a fotografar as imagens o icônico Calendário Pirelli do próximo ano, produto apresentado nesta quarta-feira, 5, em Milão.

Notadamente marcado, em sua história, por imagens de mulheres nuas, ainda que nada apelativas, o calendário vem sofrendo mudanças em seu conceito e Watson seguiu pelo mesmo caminho. “A crítica que se faz hoje em dia é contra o assédio, não contra fotos de mulheres nuas”, disse o fotógrafo, em conversa com poucos jornalistas latinos do qual o jornal O Estado de S. Paulo participou, antes da apresentação milanesa. “Jamais pensei em assediar alguém que esteja nu diante de mim; caso contrário, não poderia ser fotógrafo de modelos”, comentou. “E quem olhar com atenção o histórico dos calendários da Pirelli, notará que não há exemplos de vulgaridade.”

De fato, para criar as fotos do 46º calendário da empresa italiana, Watson decidiu criar um conceito em que rompia com o conceito de imagem congelada para, em uma sequência delas, contar uma história. “Ao me aproximar deste projeto, queria ser diferente dos outros fotógrafos e fiquei pensando qual poderia ser a melhor maneira. Fui à procura de imagens com grande qualidade, com profundidade e que contassem histórias. Não queria meros retratos de pessoas, mas algo que se aproximasse o quanto mais das ‘imagens congeladas’ de um filme.”

Nasceu, assim, Dreaming, um conjunto de quatro histórias que envolvem quatro mulheres muito distintas. “Cada uma delas tem o próprio temperamento, um objetivo de vida e um jeito diferente de fazer as coisas. E todas elas estão focadas no futuro. O pano de fundo, portanto, são os ‘sonhos’, mas o fundamento do projeto em si é o conto por meio de quatro ‘pequenos filmes’.” Dessa forma, a modelo americana Gigi Hadid interpreta uma mulher obrigada a viver a solidão depois de uma recente separação, dentro de uma torre de vidro. Tem apenas uma companhia, um amigo vivido pelo estilista americano Alexander Wang.

Já a atriz americana Julia Garner, conhecida pela série Ozark, vive uma botânica, que retrata pessoas em meio a natureza como objeto de seu trabalho. A terceira história tem a dançarina americana Misty Copeland, do American Ballet Theatre, uma das três principais companhias de balé clássico dos Estados Unidos, no papel de uma bailarina em busca do sucesso ao lado de um amigo, também dançarino, interpretado por Calvin Royal III, também profissional da dança.

O último conto é protagonizado pela modelo e atriz francesa Laetitia Casta, no papel de uma pintora que mora em um pequeno apartamento-estúdio com o seu parceiro, interpretado por Sergei Polunin. Ambos sonham com o sucesso: ela como artista, ele como bailarino, profissão, aliás realmente exercida pelo ucraniano Polunin.

“Todos os cliques foram feitos em widescreen, o que é bem desafiador. Cada uma das quatro mulheres tem o próprio temperamento, um objetivo de vida e um jeito diferente de fazer as coisas”, explica Watson, que se baseou tanto nas imagens de pin-ups, aquelas modelos voluptuosas, que tanto fizeram sucesso nos anos 1950 e que, de uma certa forma, inspiraram os primeiros calendários da Pirelli. “Também me inspirei nos filmes daquela época, em que as mulheres eram ousadas, fatais – em muitos momentos, busquei identificar Julia Garner com Barbara Stanwyck.”

Watson, aliás, é grande criador de imagens icônicas – em seu cartel, é possível observar Alfred Hitchcock segurando um ganso (1973), o lutador Mike Tyson de costas com seu avantajado pescoço (anos 1990), e o cantor Mick Jagger com rosto de leopardo (1992). Aos 76 anos, ele já foi apontado como um dos 20 fotógrafos mais influentes de todos os tempos ao lado de Richard Avedon e Irving Penn, segundo a revista americana PDN (Photo Distric News).

“Quando eu era novo, a primeira pessoa famosa que fotografei foi Alfred Hitchcock. Ele disse: ‘Meu caro jovem, quando o storyboard estiver terminado, o filme está pronto, só falta filmar’ A essência desta mensagem é algo que jamais vou esquecer”, conta o escocês, referindo-se à sequência de ilustrações na qual um diretor de cinema prepara antecipadamente a posição da câmera e a filmagem de uma cena. “A maior parte do meu trabalho foi feito com computação gráfica e em película ou, às vezes, com a combinação de ambos. Por conta disso, para mim, foi muito fácil entrar no espírito do Calendário Pirelli e compor as imagens como fotogramas cinematográficos. Foi uma questão de conseguir que todos estes vários elementos se juntassem e contassem uma história. O ponto em comum é que todas estas pessoas são dinâmicas: pensam no futuro e ficam imaginando onde poderiam estar daqui a cinco, dez, vinte anos…”

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