O artista plástico Calazans Neto, de 73 anos, morreu na noite de domingo, vítima de complicações desencadeadas por uma infecção respiratória, no Hospital Aliança em Salvador, onde ele estava internado desde o início da semana passada, por causa de uma isquemia abdominal. Seu corpo foi cremado na manhã desta segunda-feira (1), no Cemitério Jardim da Saudade.
Mestre Calá, como era conhecido, fazia parte da geração de personalidades definida por Jorge Amado como "baianos fundamentais". Amigo de Amado, ilustrou vários livros dele, como "Tereza Batista Cansada de Guerra" e "Tieta do Agreste". Seu trabalho, aliás, começou a ficar mais popular por meio dos livros, para ele, uma forma de democratizar sua arte.
Era amigo dos artistas plásticos Carybé e Carlos Bastos e do etnólogo Pierre Verger. Foi colega de escola de Glauber Rocha e trabalhou como cenógrafo em seus primeiros filmes. Glauber considerava-o da paz, mas ao mesmo tempo, uma pedra, por sua firmeza nos momentos mais difíceis e nas horas de luta. Com o cineasta e Paulo Gil Soares, fundou a editora Macunaíma, que se especializou justamente em livros ilustrados, com tiragem limitada. Criou cenografias para filmes de Ruy Guerra e para o teatro.
Nascido em Salvador, em 11 de novembro de 1932, Calazans iniciou sua carreira como pintor no Atelier de Genaro de Carvalho. Trocou a pintura pela gravura. Estudou gravura em metal com Mario Cravo, na Escola de Belas Artes da Bahia. Passou em seguida a se dedicar à gravura em madeira, que correspondia com mais propriedade ao seu temperamento, irriquieto e desejoso por criar uma linguagem própria.
Aderiu a um movimento renovador das artes e literatura na Bahia, ao lado dos amigos Glauber e Paulo, mais Fernando da Rocha Peres e Sante Scaldaferri. Juntos, fundaram a jogralesca (poemas teatralizados) e a revista "Mapa", especializada em literatura e arte.
Acumulou habilidades: foi gravador, gráfico, editor, cenógrafo. Como gravador, participou de exposições coletivas e individuais nos principais museus e galerias do Brasil, Europa, EUA e em alguns países africanos. A opção pela gravura fez com que mais pessoas pudessem adquirir suas obras.
Sua vida chegou a ser marcada por três constantes M, como citou certa vez: a mulher, o mar ("sou homem do litoral, contemplativo e não especifico, é todo o mar profundo ou o que se espalha na areia") e a madeira ("elemento para o qual transponho tudo isso"). Até o dia 31, é possível conferir no Sesc São Caetano, na região do ABC paulista, um pouco de sua contribuição para a sétima arte na mostra Cinema em Cartaz, que reúne cartazes de cinema brasileiro.