A sopa de letrinhas da nata da música de concerto da Rússia no século 20 em gravações esquecidas, agora remasterizadas, de composições de um dos mestres de seu século, Igor Stravinski (1882-1971) – cuja morte completou 40 anos no último dia 6. Lançada dia 14 pela Biscoito Fino, em parceria com a produtora Dell’Arte, e presentão de Natal para quem tem amor pela música, a caixa Acervo Russo traz, em quatro CDs, registros do fim dos anos 40 ao início dos 90, conduzidos por grandes regentes, como Evgeny Mravinsky, Viktor Tretyakov, Yuri Nikolayevsky e Gennady Rozhdestvensky.
Executado ao vivo pelas Filarmônicas de Leningrado (hoje São Petersburgo e a mais antiga orquestra russa em atividade) e de Moscou, entre outros grupos, o repertório tem obras bem conhecidas, como os balés Petrushka (gravado em 1946), O Beijo da Fada (em 60) e Pássaro de Fogo (em 66), e outras sem notoriedade mesmo entre músicos, como Apollo (61) Introitus (74) e Orpheus (83).
Tudo havia sido gravado nos estúdios da rádio estatal Gostelradio, em Moscou, e permanecia em discos de acetato e fitas de poliéster, nos acervos do antigo Estado comunista. Por sua expertise no resgate de materiais danificados pelo tempo, a empresa brasileira Visom Digital foi chamada há cinco anos a recuperá-los, para lançamentos voltados exclusivamente à distribuição para o mercado europeu. Mais de 200 CDs saíram desse trabalho. O presidente, Carlos Andrade, pensou: e por que não levar esse patrimônio também ao Brasil?
Foram mais de 400 mil horas, com suas distorções e chiados, desveladas nos abarrotados acervos, que até hoje não foram explorados como merecem. O primeiro passo foi dado por engenheiros russos, que verteram as matrizes originais para o formato digital.
No Brasil, o material foi copiado e avaliado pela Biscoito Fino e a Dell’Arte – para o deleite de sua presidente, a pianista e professora Myrian Dauelsberg. Filha da violinista Mariuccia Iacovino e do pianista Arnaldo Estrella, que frequentaram a União Soviética desde a década de 40, educada em Paris com acesso ao melhor da música russa, essa ex-diretora da Sala Cecília Meirelles (entre 1974-1979), já aterrissou na terra gelada de Stravinski 32 vezes.
É apenas a primeira das caixas planejadas pela gravadora e pela produtora. Outras gravações, de figuras igualmente icônicas, como Mstislav Rostropovich e Evgeny Kissin, sairão à medida que os guardados no acervo russo forem sendo conhecidos. A próxima, em 2011, será focada em performances inéditas de Richter. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.