Caio Blat sempre se sentiu um tanto deslocado nos almoços de domingo. A exemplo do sensível Abelardo, de Da Cor do Pecado – que ousou ser maquiador numa família de lutadores de jiu-jítsu -, ele é o único ator numa família de profissionais de saúde. O pai, José Lucínio, e a irmã, Camila, são fonoaudiólogos e a mãe, Kátya, e a outra irmã, Maria Fernanda, dentistas. “Fiquei de fora dessa tradição familiar. Mas na boa. Sem discriminação”, enfatiza. Dona Kátya, porém, está longe de lembrar a Mamãe Sardinha da novela. Foi ela quem levou Caio, ainda pequeno, para fazer os primeiros comerciais de tevê. “Ela é a minha maior crítica. Se um personagem está muito parecido com outro, fala para caramba”, entrega.
Mas, a julgar pelo currículo do filho, Dona Kátya não tem muito do que reclamar. “Já fui mocinho, sedutor, vilão… Agora, faço o esquisitão da casa. Deve ser horrível ficar marcado por um tipo apenas”, acredita. Apesar de já contabilizar 10 anos de carreira – só de novelas -, Caio nunca interpretou um tipo assumidamente cômico antes. O máximo que conseguiu foi fazer um humor involuntário como o querubim Rafael de Um Anjo Caiu do Céu.
E, para sensibilizar o público, Caio é capaz de se esmerar na composição de um personagem. Na época de Chiquinha Gonzaga, quando fez um jovem apaixonado por música clássica, Caio não perdeu tempo e comprou uma pilha de CDs do gênero. Para Abelardo, não foi diferente. Caio foi buscar inspiração em filmes de artes marciais, no horóscopo chinês e, principalmente, em revistas de moda e maquiagem. “Hoje, já sei quando alguém erra no tom da sombra ou não sabe combiná-la com o ‘gloss’. Boa maquiagem valoriza a expressão”, pondera ele, com autoridade no assunto.
Atores iguais a Caio Blat existem poucos por aí. Em 2001, ele trocou uma cobertura na Barra por uma casa no Vidigal, favela de 12 mil habitantes na zona sul do Rio. Na época, selecionava atores da comunidade para o elenco da peça Êxtase, escrita por Walcyr Carrasco e dirigida por ele. O espetáculo contava a história de dois jovens de classe média que chegavam a se prostituir para comprar drogas. Durante quatro meses, Caio seguiu à risca a lei de sobrevivência que impera nos morros cariocas. Como todos os moradores, não podia chegar de táxi, pedir comida em casa ou correr pelas ruas da favela. “Os jovens pensam que ser artista é aparecer na Globo. Mas não é só isso. Temos bandeiras a levantar”, prega.
Diferente
Desde cedo, Caio Blat revelou-se um jovem diferente do habitual. No Colégio Anglo-Americano, era sempre um dos primeiros da turma. De presente, em vez de brinquedos, ganhava livros. Aos 12 anos, gastou a mesada inteira comprando a coleção de Agatha Christie. Leitor voraz de romances policiais, acabou escrevendo um, O Último Suspeito, ainda inédito. Mas Caio não aprecia apenas histórias de mistério. Dois de seus poetas favoritos são Castro Alves e Álvares de Azevedo. Do último, produziu a peça Macário, em 2000. No período em que estudou Direito na USP, freqüentava o mausoléu de um dos primeiros professores da faculdade, onde tomava vinho e recitava poesia.
Caio Blat é também avesso a noitadas e badalações. Atualmente, ele se divide entre um “flat” em Copacabana, na zona sul do Rio, e o sítio em Campinas, no interior de São Paulo, onde moram a mulher, a cantora lírica Ana Ariel, e o filho adotivo, Antônio, de apenas um ano. “A Ana é o oposto de todo mundo que quer aparecer”, destaca o ator, que casou-se apenas 15 dias depois de conhecer a futura mulher. Juntos, os dois trabalham como voluntários da Associação dos Amigos da Criança, que atende a 400 menores carentes em Campinas. Foi lá que conheceram o pequeno Antônio, recém-nascido. “O olhar do Antônio vale o medo de ter casado novo”, derrete-se.