Música

Caetano dá mirada política em seu novo álbum

O show de apresentação do recém-lançado álbum Zii e Zie, de Caetano Veloso, chega a Curitiba. No próximo dia 27, o baiano apresenta aos curitibanos seu repertório composto pelos novos sucessos do novo CD e ainda as famosas canções que já fizeram história na música popular brasileira. Em entrevista para O Estado, Veloso lamenta não ter tido a chance de apresentar seu último trabalho, Cê, na capital. No entanto, o cantor afirma que agora o público será recompensado pelo tempo que ficou sem passar por Curitiba.

O Estado – Como você vê Zii e Zie dentre os discos de sua carreira?

Caetano Veloso – Vejo Zii e Zie mostrando mais o vínculo que existe entre Cê e minha produção dos anos 60s e 70s. O show deixa isso ainda mais claro.

OE – Qual foi a razão do nome Zii e Zie?

CV – Eu queria um título enigmático e que fosse em italiano. Zii e Zie me apareceu como a escolha perfeita. É difícil até de ser reconhecido como italiano. Escrito parece uma língua oriental e que não sabemos muito bem como pronunciar. Descobri logo também que o significado é bonito, significativo e irônico. Tios e tias (tradução) me faz pensar em como somos chamados pelos meninos que pedem esmola no sinal. Tem também sua graça essa junção de masculino e feminino. Além disso, por ser italiano e por ser o modo como os paulistas jovens se referem aos menos jovens, o título remete a São Paulo, uma cidade que esteve sempre na minha nuca, enquanto o córtex frontal trabalhava essas canções todas sobre o Rio de Janeiro.

OE – Quais são as referências musicais que você traz em Zii e Zie?

CV – Gilberto Gil, as primeiras ligações dos tropicalistas com o rock, Mutantes, Cê (com sua menção direta aos Pixies do disco da BBC), Martnália, Roberta Sá, Animal Collective, Lamartine Babo, Francisco Alves, Los Hermanos, Seu Jorge, Jorge Ben, Mariana Aydar cantando Leci Brandão.

OE – As conotações políticas presentes ao longo de sua carreira também estão em Zii e Zie?

CV – Depois de um disco tão individualista e pessoal como Cê, Zii e Zie me parece especialmente político. Praticamente todas as canções têm uma mirada política, uma tendência a comentar tudo numa perspectiva geral, coletiva e histórica. As afirmações que estão em Falso Leblon e Lapa, a profissão de fé que é Diferentemente, as sugestões que há em Lobão tem razão, a confissão que é Base de Guatánamo – tudo, até o som da rua à noite ouvido da cama em Por quem? ou a visão do carnaval em Tarado ni você, tudo está impregnado de visão política.

OE – Por que Zii e Zie fica “mais perto de São Paulo”, como você afirmou recentemente em seu blog?

CV – Eu disse isso sobre o título, mas o som dos arranjos e da musicalidade do disco também nos aproxima de Sampa.

OE – Zii e Zie x Cê. Quais as principais diferenças ou semelhanças entre esses dois álbuns?

CV – Criei uma banda para executar o repertório de Cê e agora criei o repertório de Zii e Zie para essa banda executar. Escolhi os músicos da banda pensando nas canções já existentes do Cê; fiz as canções do Zii e Zie pensando na banda que nasceu daí. Cê é mais conciso, mais anglo-saxão, mais apaixonadamente individual. Zii e Zie é mais abrangente, mais católico, mais reflexivo. Mas a banda foi mais fundo e a captação de som, por parte de Daniel e Moreno, ficou mais caprichada ainda.

OE – Para você, qual é a importância em continuar se atualizando, buscando novas parcerias e s,onoridades em suas músicas?

CV – Sendo Pedro Sá e os caras que ele trouxe com ele, é tudo simplesmente excelente. Vou fazendo o que considero relevante para mim mesmo e acolhendo o que o acaso proporciona. Este encontro agora tem sido muito enriquecedor. Agradeço aos deuses do Olimpo, aos deuses do candomblé, ao Deus desconhecido, ao acaso.

OE – Essa será a primeira apresentação do Zii e Zie em Curitiba. O que está esperando para o show?

CV – Sofri muito por não fazer o Cê em Curitiba. Espero que, com Zii e Zie, o público dessa cidade que adoro entre finalmente em contato direto com a banda Cê e entre em sintonia com a onda em que estou agora.

OE – Como é para você tocar em Curitiba? O público daqui é diferente das outras cidades pelas quais está divulgando seu trabalho?

CV – Os públicos variam de cidade para cidade. Mas dependem mais do tipo de casa de espetáculo em que os shows se dão. O público mais quente até agora foi o de Salvador. Mas é porque foi na Concha Acústica, ao ar livre, para 5.000 pessoas. Se tivesse sido no Teatro Castro Alves, teria sido menos quente do que as apresentações no Credicard Hall em São Paulo. Quanto a Curitiba, sempre foi maravilhoso cantar aí. Mas desta vez canto num teatro que não é o Guaíra. Vamos ver.

OE – Então o que o público pode esperar para o seu show na capital?

CV – Um trabalho cuidado e profundamente sentido. Uma banda relaxada e inspirada. Um velho conhecido de todos mostrando seu material novo e contando como vê hoje o que vem fazendo há décadas. Sinceridade, honestidade e o gozo de atuar.

Serviço

O show Zii e Zie, de Caetano Veloso, acontece no dia 27 de junho às 21h, no grande auditório do Teatro Positivo (Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300). Os ingressos podem ser adquiridos no Disk Ingresso (41) 3315-0808, nos quiosques dos shoppings Mueller, Curitiba e Total, pela internet www.diskingressos.com.br e nas bilheterias do Teatro Positivo. Os valores variam de R$ 80 a R$ 180 de acordo com o setor do teatro. Informações (41) 3315-0000.

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