Bussunda solta o verbo

É difícil deixar de notar a presença de Bussunda. Mesmo entre os bizarros integrantes do “Casseta & Planeta, Urgente!”. Afinal, o humorista, batizado como Cláudio Besserman Vianna, chama a atenção pelo corpanzil de aproximadamente 120 quilos.

No entanto, conversar com Bussunda é uma surpresa. Ele é um tímido inveterado e só após alguns minutos de bate-papo começa a se soltar. Dono de uma voz pausada e gestos lentos, o humorista é capaz de falar seriamente por alguns instantes, mas não demora a soltar piadas com um risinho no canto da boca. Sobre a vitalidade dos “cassetas” após uma década, desde que estrearam o “Casseta & Planeta, Urgente!” na Globo, Bussunda é taxativo. “Somos espada. Resolvemos problemas com gritos e tapas na mesa. Falta o componente da viadagem para alguém querer sair do grupo”, gaba-se.

Na verdade, existem bons motivos para os “cassetas” se manterem unidos. Além dos salários de cada um na Globo, a empresa Toviassu, que gerencia os negócios do grupo, movimenta em torno de R$ 2 milhões por ano. Os humoristas já venderam, por exemplo, 600 mil exemplares de sete livros, possuem um dos sites mais populares da Internet, com mais de 500 mil visitas por mês, e têm mais de 15 produtos licenciados. Além disso, acabam de montar uma exposição com produtos da “Organizações Tabajara” em São Paulo e no Rio de Janeiro, lançam em novembro o DVD “Os Melhores Momentos” e filmam em 2003 o primeiro longa-metragem. “Queria alugar uma casa e fazer um museu fixo no Rio com os produtos dos cassetas”, ressalta o colecionador de pingüins de geladeira. “Tenho uns 50 e poucos”, contabiliza.

P

– O “Casseta & Planeta, Urgente!” está completando uma década de Globo. Até que ponto o grupo depende do programa?

R

– Se o programa na Globo acabar por algum motivo, provavelmente faríamos um filme por ano, montaríamos um espetáculo para correr o Brasil e pelo menos mais dez anos de fôlego a gente teria. Isso sem ir para outra emissora. Quando a gente estiver muito feio para aparecer na tevê, continuaremos como autores.

P

– Nunca houve a real possibilidade de algum dos integrantes deixar o “Casseta”?

R

– Não. Já aconteceu do grupo querer expulsar alguém… Mas a gente é espada. Resolvemos as coisas no grito, com tapas na mesa… Falta o componente da viadagem que faria alguém pular fora do grupo. Ninguém fica magoadinho… Viemos de uma amizade antiga e gostamos do nosso trabalho. Mais das realizações do que da fama. A nossa ligação é com o humor bem-feito. Estamos num período de “vacas magras”, mas todo mundo adora quando gastamos uma fortuna para fazer uma piada babaca. Isto dá um grande prazer. Como a Campanha do Pum, em que reunimos um monte de artistas para cantar uma música boba. Este tipo de coisa é mais legal do que querer fazer sucesso.

P

– E por que “Semelhança” não foi mais ao ar?

R

– Porque o Benedito Ruy Barbosa pediu à direção da Globo e nós tivemos que acatar.

P

– Você acha que a paródia era ofensiva?

R

– Não. Mas o Benedito não gostou. Não entendi, pois em “Terra Nostra” também fizemos. Nunca bolamos uma piada com o intuito de ofender. Faltou humor ao Benedito.Paródias atraem o público para a produção. O autor inclusive pode até melhorar a novela. Acho que a piada foi boa demais.

P

– Você arriscaria analisar o humor atualmente na televisão?

R

– “Os Normais” foi uma renovação bacana, pois ultimamente não se tinha conseguido uma sitcom nacional de qualidade. “A Grande Família” voltou bem também. Já “A Praça É Nossa” é tradicional e tem público. A minha dificuldade em relação a programas como “A Praça” é que eles são parecidos. Normalmente gosto muito de alguns personagens e pouco de outros. Mas deve ter muita gente que assiste ao “Casseta” assim também. Já a questão do bordão é relativa. Quando se gosta do personagem e do bordão, pode-se ver aquilo a vida inteira. Com a Velhinha Surda do falecido Roni Rios nunca consegui não rir.

Casseta e o Planeta Diário

A entrada do humorista Bussunda para o futuro “Casseta & Planeta, Urgente!” aconteceu em 1980. Dois anos antes, Marcelo Madureira, Hélio de la Peña e Beto Silva, estudantes de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, lançaram o jornal “Casseta Popular”. Junto com Bussunda -que na época havia entrado para a faculdade de Jornalismo também na UFRJ, mas que acabou largando pouco antes de se formar -, Cláudio Manoel aderiu ao grupo. Todos os integrantes redigiam, desenhavam e ainda vendiam os exemplares em bares e na praia. No mesmo período, Hubert e Reinaldo davam os primeiros passos com o jornal “Planeta Diário”, também voltado para o humor. “No começo, o ?Casseta Popular? era mimeografado e tinha uma tiragem de 250 exemplares”, recorda Bussunda.

Mas os dois grupos só se uniram em 1988, quando foram chamados para assumir a redação do programa global “TV Pirata”. Eles também escreveram para o “Doris Para Maiores”, onde começaram a atuar. Bussunda finalmente parecia deixar de ser “considerado um caso perdido”. O humorista diz isso porque, aos 16 anos, ele conseguiu a proeza de tirar zero em dez matérias, ser expulso do Colégio Princesa Isabel no Rio de Janeiro e matar seis meses de aula de Inglês. Caçula rebelde entre os três irmãos, o humorista chegou a pensar em fazer análise. Só não fez porque ouviu os conselhos de sua mãe Helena Besserman, psicanalista que faleceu este ano. “Brinco que fiz 23 anos de análise porque morei com minha mãe todo este tempo”, diz.

Casado e pai da menina Júlia, de oito anos, Bussunda tem certeza que acabou optando pelo caminho profissional mais apropriado ao seu estilo de vida. Tudo o que este carioca de 40 anos não queria era cair na rotina ou ter de encarar um trabalho burocrático. “O que mais gosto na minha vida é saber que na segunda vou estar fazendo algo completamente diferente do que fiz na sexta”, alegra-se.

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