Bueno entre os cinco melhores

A coordenação geral da 11.ª Jornada Nacional de Literatura, da Universidade de Passo Fundo (RS), anunciou, ao anoitecer de ontem, o crítico e escritor paranaense Wilson Bueno entre os cinco finalistas do 4.º Prêmio Zaffari & Bourbon de Literatura, concurso que oferece a bolada de R$ 100 mil para o autor do melhor romance em língua portuguesa em 2004. Na última quarta-feira, a Universidade de Passo Fundo havia anunciado quatorze finalistas entre 230 inscritos. Em busca da láurea estavam: Antônio Torres, Chico Buarque, Francisco J. C. Dantas, José Nêumanne Pinto, José Saramago, Luiz Antônio de Assis Brasil, Luiz Ruffato, Michel Laub, Miguel Sousa Tavares, Rodrigo Lacerda, Silviano Santiago, José Eduardo Agualusa (o mais importante escritor moçambicano), Cristóvão Tezza, catarinense radicado em Curitiba há mais de trinta anos, e Wilson Bueno. O autor concorre com Amar-te a ti nem sei se com carícias (2004), lançado pela editora Planeta.

O vencedor do generoso prêmio será anunciado na sessão de abertura da 11.ª Jornada Nacional de Literatura, dia 22 de agosto, em Passo Fundo. O júri é composto por Regina Zilberman (PUC/RS), Ignácio de Loyola Brandão, Antônio Dimas (USP), Paulo Becker (UPF) e Carlos Reis (Universidade de Coimbra). Entre 110 escritores e cem artistas, o evento deve reunir aproximadamente vinte mil participantes. "Estar entre os cinco eleitos já é um orgulho. Os livros são excelentes, mas não há previsões. Vale a expectativa, confesso que se o prêmio for para o sergipano Francisco Dantas estará em boas mãos", afirma Bueno.

Em Amar-te a ti nem sei se com carícias, o autor escreve sobre um crime e a busca pelo crime; com estilo lingüístico culto e formal, Bueno critica a retórica usada pelas elites brasileiras do século XIX. "A retórica e a pompa que a elite usava e ainda usa é ridícula. Muita falação e nenhum conteúdo. Segundo o autor, a obra trata sobretudo da enorme crueldade que existia na época; a Guerra do Paraguai e o tráfico de escravos são alguns exemplos da maneira como os "bacharelados" da época se comportavam. A história acentua a empáfia das elites com o triângulo amoroso entre um militar, um rico herdeiro e sua esposa.

O romance foi escrito em cima da cópia de um manuscrito encontrado em uma casa demolida em Botafogo, no Rio de Janeiro. O documento trazia as siglas "L.P." na capa. A principio, o texto tratava das memórias de Leocádio Prata, mas ninguém sabe afirmar ao certo se era dele, da sua esposa Lavínia Prata, ou de um desafeto de Leocádio, Licurgo Pontes, amante de Lavínia. A afirmação foi feita pelo próprio Wilson Bueno. "Existe a suposição de que o amante tenha encontrado o original e reescrito a sua maneira", exalta Bueno.

Wilson Bueno

Aos 56, o autor é considerado um dos escritores mais importantes da literatura nacional. Sua história com a literatura teve início tardio. Em 1986, aos 38 anos, foi por incentivo do poeta Paulo Leminski que Bueno publicou Bolero’s Bar. A obra conta com o único prefácio assinado por Leminski. O reconhecimento veio em 1992 com o lançamento da novela Mar paraguayo, onde conta a história de uma mulher sofrida. O livro foi escrito em portunhol (espanhol, português e guarani). Autor de Manual de zoofilia, Jardim zoológico e o recente Cachorros do céu, Bueno faz um paralelo entre os bichos e os homens para explicar o comportamento humano. "Na verdade eu faço uma refabulação das tradicionais histórias contadas por La Fontaine, Irmãos Grimm e outros", afirma. Segundo o crítico literário Ivo Barroso, são fabulários no mau sentido da palavra, pois, longe de os textos se revelarem morais, são escárneos desmoralizantes em si mesmos e desmoralizantes das intenções construtivas das fábulas convencionais. Entre seus principais livros está o finalista do Prêmio Jabuti de 2001, Meu tio Roseno, a cavalo.

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