O escritor Wilson Bueno ao longo de seus 61 anos de idade construiu duas obras: a sua literatura – reconhecida como uma das mais interessantes entre os escritores brasileiros dos últimos quarenta anos e que rendeu perto de quinze livros – e o jornalismo.

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Bueno, além de escritor, como muitos autores, era jornalista. E como jornalista, sua atuação marcante foi a de editor de O Nicolau por oito anos. O jornal literário publicado mensalmente pelo governo do Estado durante as gestões Álvaro Dias e Roberto Requião (primeiro mandato) foi tacada de mestre.

Custo barato, bom conteúdo e prestigiado a ponto de ser considerado o melhor jornal de cultura do Brasil pela exigente Associação Paulista dos Críticos de Arte. O jornal estranhamente foi desativado no primeiro mandato do governo Lerner em 1994 e nunca mais voltou.

Estranho porque além de equipe pequena, papel e dinheiro para postagem, o jornal gastava pouco e agradava a muitos. No caso, os muitos que gostam de boa literatura. Era um jornal que trazia coisas novas que aconteciam no Brasil e traduzia coisas que aconteciam no exterior, além de boas entrevistas.

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O desaparecimento do jornal foi perda para a cultura paranaense, claro. E sem garantia de que o dinheiro economizado foi bem aplicado em outras iniciativas. Depois de O Nicolau, Bueno passou a dedicar-se à literatura em tempo integral e à sua coluna dominical em O Estado do Paraná.

Até então, ele tinha publicado Bolero’s bar (Criar Edições, 1986) e Mar paraguayo (Iluminuras, 1992), além de Manual de zoofilia e Ojos de água. O destaque destes e dos que vieram depois fica por conta de Mar paraguayo.

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Recorrendo no título a algo inexistente – mar do Paraguai – ou talvez existente no espírito de um povo, que é o mar de Guaratuba, famoso balneário paranaense que no verão se entupia de paraguaios, Bueno introduz uma narrativa recheada de expressões em português, espanhol e guarani. Uma atmosfera delirante que evoca romances de Gabriel Garcia Marquez como O outono do patriarca.

Mar paraguayo também foi o livro que fez o melhor percurso internacional entre os que Bueno escreveu. Saiu no Chile (Intempérie Ediciones), Argentina (Tse-Tsé), México (Editorial Bonobos) e está sendo traduzido para a Oxford Press University por Erin Moore.

Além deste, Bueno também escreveu Cristal (Siciliano, 1995), Pequeno tratado de brinquedos (Iluminuras, 1999), Meu tio Roseno, a cavalo (2000, vencedor do prêmio Jabuti), Amar-te a ti nem sei se com carícias (Planeta), O copista de Kafka (2007) e estava com mais um livro pronto, Mano, a noite está velha, que será lançado em julho pela Editora Planeta.

No jornalismo, Bueno trabalhou no Jornal do Brasil e foi colaborador regular do caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo. Sua estréia na literatura em 1986 teve o patrocínio de Paulo Leminski que o apresentou aos leitores de Bolero’s bar.

Como diria o cartunista Solda, além de tudo isto, Wilson Bueno também foi um autêntico pibe (garoto em espanhol) de Jaguapitã, a cidade do Norte do Paraná em que nasceu.