A Escolinha voltou!

Bruno Mazzeo fará papel do pai como professor Raimundo

Durante a gravação da nova Escolinha do Professor Raimundo, a diretora Cininha de Paula orientava os atores. “E aí Chico Anysio entra por ali… Não. O Bruno”, corrigiu­se. O ato falho se repetiu três vezes e deu o tom do remake do humorístico que ganha sete novos episódios, numa parceria entre a TV Globo, que exibe o programa nos domingos de dezembro, e o Canal Viva, a partir de 23 de novembro.

O que confundia Cininha, que dirigiu por oito anos a Escolinha original, era a caracterização de Bruno Mazzeo, filho de Chico, que assumiu o lugar do “amado mestre”. A voz e os gestos reforçavam a sensação de que Chico estava ali. “Teve momentos de tanta semelhança, tanta semelhança. Foi muito inconsciente”, explicava Cininha, sobrinha de Chico Anysio.

Bruno evitou rever o programa feito pelo pai. “Na véspera de a gente gravar, (Marcelo) Adnet me falou que estava vendo tudo. Comecei a ficar apavorado, porque eu estava só na memória. O professor Raimundo, depois que virou diário, ficou muito próximo do meu pai.

Então tem a questão genética, de gestual. Mas não teve nada muito pensado. Foi tudo naturalmente. Meu trabalho maior foi na análise”, disse, referindo­se à morte do pai, há três anos, o que fez com que ele balançasse antes de aceitar o projeto.

Tata Barreto
Helen Roche interpreta a Dona Bela. Ela continua apagando o quadro de um jeito provocante, só que mais comedida.

A ideia do especial é homenagear Chico Anysio, mas também os humoristas que criaram os personagens dos alunos. A diretora explica que foram escolhidos os “mais talentosos” e com alguma semelhança física ou vocal com os atores da escola original. Algo que facilitasse a caracterização e levasse à identificação imediata.

Foram escalados, além de Mazzeo e Adnet, Dani Calabresa, Lúcio Mauro Filho, Marcius Melhem, Maria Clara Gueiros, Otávio Müller, Mateus Solano e Betty Gofman, entre outros. A Escolinha perdeu, assim, um pouco da característica de resgatar antigos atores, alguns já esquecidos, que rendeu ao programa o apelido de o “INSS do Chico” e o reconhecimento da generosidade de seu criador. “Era o seu personagem menos engraçado, mas o que ele mais gostava de fazer”, disse o filho.

Por outro lado, a semelhança entre os atores e o incrível trabalho de caracterização de Rubens Libório e figurino de Sônia Soares transformaram Marcos Caruso no Seu Peru; Solano, em Zé Bonitinho, Melhem, no Seu Boneco. Quando a mal­ajambrada Catifunda levanta com seu charuto e explica que anda vendendo lugar na fila do INSS, é difícil acreditar que é Dani Calabresa quem dá vida à personagem de Zilda Cardoso.

Descontração

Além da memória afetiva, o que faz funcionar a Escolinha é o texto atual, com redação final de Daniel Ajafre e Péricles Barros – ambos já haviam trabalhado com Chico Anysio. Num episódio, a “aborrecente” Tati, criada por Heloísa Périssé e agora encarnada por Fernanda Souza, explica o que foi a Semana de Arte Moderna de 1922, conta que estavam no movimento “a Anita, que não é a cantora, é a Malfatti; e o Di, que não é o Ferrero, é o Cavalcanti”. “Hashtag partiu fazer arte.” Zé Bonitinho se apresenta às mulheres do seu “Brasil varonil”: “Agora em HD e 3D… tudo em alta definição. Câmeras, close, please.”

Em tempos de humor politicamente correto, a sensualidade de Capitu (Cláudia Mauro/Ellen Roche), que apagava o quadro toda rebolante, ainda é explorada, mas de forma mais comedida. Ora o professor encobre a moça, ora Dona Bela (a,gora Betty Gofman, que já havia interpretado Zezé Macedo no teatro) é a encarregada da função. Quando Rolando Lero (Rogério Cardoso/Adnet) reclama da escalação de Dona Bela, o professor manda que ele vá ao quadro. Lero se queixa de que perderá a reputação. “Você já fez coisas bem piores na MTV”, rebate Raimundo.

Tata Barreto
Dani Calabresa será a Catifunda: personagem caiu-lhe como uma luva.

Como na época de Chico, os atores recebem apenas suas falas. Cada um assiste à performance dos colegas e uns se surpreendem com as piadas dos outros. Chegam a imaginar que Lúcio Mauro Filho improvisou nas falas de Aldemar Vigário, personagem que foi de seu pai, e que costumava resgatar as histórias de Raimundo Nonato, “menino cabeçudinho, joelhinho grosso”. Cininha intervém: “O Lucinho está imitando o pai, que não decorava uma linha. Mas ele decorou. Para brincar, tem que decorar. Se não vem aquela famosa frase do Chico Anysio: ‘voltemos ao texto’”.

Na gravação, o clima é descontraído. Caruso solta um “faria isso pelo resto da vida”. “Chico garimpou esses personagens no povo brasileiro. Ao homenagearmos esse Raimundo, estamos usando a emoção, a memória afetiva, a técnica com um componente a mais que se chama saudade”, disse Caruso.

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