TV Press – À primeira vista, o papel do comerciante Hércules Galvão, de Três irmãs, tinha tudo para ser mais um tipo bem-humorado para Bruno Garcia. Como ele é conhecido por interpretar figuras histriônicas, o personagem poderia ser apenas um engraçadinho na trama do autor Antônio Calmon.
Mas a possibilidade de interpretar um homem com dupla personalidade surpreendeu o ator. E, se depender dele, Galvão vai crescer ainda mais na trama. “Estou ali para ser engraçado quando precisar e ser dramático quando precisar também. A televisão procura atores que façam isso”, valoriza.
Depois de atuar em cinco novelas da faixa das sete, Bruno sente que amadureceu profissionalmente ao interpretar o dramático Pedro, na minissérie Queridos amigos, em 2008. E, depois disso, só pensa em manter a boa fase na teledramaturgia.
“Esse papel foi fundamental para que eu pudesse mostrar uma outra faceta minha. E me sinto renovado depois deste trabalho. Sei que posso ir além do engraçado”, garante.
Ficar tachado por um mesmo estilo, aliás, é o que Bruno menos teme. Mesmo colocando pitadas de humor em seus personagens, ele garante que só está obedecendo ao tom de Galvão. “Sou muito chamado para essa função e sei até onde posso ir. E, se possível, também quero variar”, afirma.
P: Seu personagem começou a trama como uma espécie de vilão, mas aos poucos foi perdendo esta característica. Como o Antônio Calmon apresentou o Galvão?
R: Ele me disse que o Galvão seria um sujeito muito dividido entre o bem e o mal, até por conta da família que tinha. Com um pai muito severo e uma mãe muito religiosa. Na verdade, ele estaria no limite entre uma possibilidade e outra, e foi justamente isso que aconteceu. A função do Galvão era ser vilão, mas ao mesmo tempo ter uma relação de amor, mesmo que fracassada com a Alma. E, no meio dessa vilania, ele vê o irmão se transformar em uma pessoa perigosa, o que o faz abrir os olhos. A partir daí ele teve uma espécie de redenção. Percebi que o Calmon conduziu o Galvão para outras possibilidades.
P: Você já havia feito outras cinco tramas no mesmo horário, que tem como característica o humor. Você encarou esse personagem de forma diferente?
R: Com certeza. E apesar de ser bastante requisitado para essa faixa, vejo cada trabalho diferente do outro. O Galvão tem atitudes surpreendentes que imagino que outros personagens que fiz não tinham. Isso porque eu posso estar fazendo o papel do ridículo em uma cena, mas em outra já quebro o personagem com um drama. E isso funciona pra mim. Já trabalhei com o Calmon antes e acho que ele faz diálogos muito bem, e é, sobretudo, muito jovial. E, mesmo que ele crie um vilão, será sempre um vilão com humor. Vejo isso como uma característica dele, pois trabalha muito bem com a dualidade dos personagens. O Galvão é bem isso. Ele é muito intenso em tudo.
P: Mas você tem essa característica de colocar uma pitada de riso em seus personagens também…
R: Gosto muito de fazer humor. Comecei minha carreira ainda criança e sempre gostei muito de palhaçada, de divertir os outros. Mas o que acontece é que por mais que você possa dar o seu colorido ao personagem, ele já está escrito. Por isso que existe o intérprete. Você não cria o papel, quem cria é o autor. Procuro sempre ler o personagem o mais fiel possível em relação ao que o autor imagina que ele seja. No caso do Galvão, eu consegui unir as duas coisas.
P: Você não tem medo de ficar estereotipado com tantos tipos semelhantes?
R: Não. Isso não chega a me amedrontar, mas é algo que vejo que preciso v,ariar de vez em quando. Entre Pé na jaca e Três irmãs eu fiz Queridos amigos, que foi um trabalho completamente diferente. Toda obra de teledramaturgia tem de ter humor. Aliás, toda grande história, ao ser contada, tem humor. Mesmo em um drama. Mas na minissérie foi bom não estar nem perto do núcleo de humor. O Pedro era um personagem denso, deprimido. Nada parecido com o que tinha feito. Até fiz o Heitor em Dona Flor, que também não era personagem de humor. Mas o Pedro foi a superação.
P: Como foi o início da sua carreira na tevê?
R: Comecei na tevê em 1991, em Felicidade. Mas só em 2002, com Coração de estudante, que fui projetado para o grande público. Até então, já tinha feitos muitos trabalhos em novela, fiz muito Você decide, várias minisséries como O auto da compadecida. Mas mudava muito de fisionomia e não tinha uma referência com o público, que só me reconheceu quando estava com o mesmo visual. A partir de Coração de estudante que as pessoas começaram a falar o meu nome. Depois fui convidado para fazer meu primeiro protagonista em Bang bang e não saí mais da faixa das sete.
P: Mas você já pensou em desistir da televisão para seguir no teatro ou cinema?
R: Claro que não. Comecei no teatro com 11 anos de idade, e foi o palco que me abriu as portas para a tevê e o cinema. Gosto muito de atuar onde quer que seja. Acho muito divertido pensar que estou iludindo o público, mas iludindo no bom sentido. Gosto de me manter essa brincadeira de faz de conta o tempo todo. E até em uma cena em que preciso de concentração, não vou deixar de criar um clima de diversão. Ser ator é um trabalho que precisa de muita alegria para dar certo.