Quem estiver na plateia do Tom Jazz nesta quarta-feira, 22, pode vivenciar o “efeito Susan Boyle”. Assim como quem não deu crédito à desajeitada senhorinha escocesa antes de sua impressionante audição no programa Britain’s Got Talent – quando cantou I Dreamed a Dream, em abril de 2009 -, enganam-se os que julgarem Bruna Moraes pelos seus 18 anos, 1,53 m e sua carinha de quem acaba de chegar ao mundo.
Bruna faz show de lançamento de seu primeiro álbum, Olho de Dentro. Lançado em novembro do ano passado, o disco tem sete das 11 faixas compostas por ela, só ou com parceiros, e quatro regravações. Com a maturidade de quem já tem alguns anos de estrada, a paulistana mescla ritmos brasileiros – samba, baião, chorinho – e usa, sem esforço, a variação de tons a favor de sua interpretação.
É tanto talento para tão pouca vivência que Bruna nem atribui o sucesso a ela. “Canto desde os 12 anos, então isso nasceu comigo. Não tenho mérito por isso, não vivi fazendo de tudo para que isso acontecesse”, diz. Com uma ligação forte com a umbanda, a compositora acredita, por vezes, receber as canções em letra e melodia.
Foi o que Bruna diz ter acontecido com Zóio de Foia, faixa assinada por ela e que abre o disco. Em uma visita a um terreiro, ela conversou, por meio de um terceiro, com uma entidade, que lhe ditou parte da letra. “Em casa, percebi que as palavras encaixavam exatamente com uma melodia que eu tinha feito havia muito tempo. Fiz uma oração, chamei a entidade e terminamos a música juntos”, lembra.
Quando compôs Chorei num Samba, em parceria com Ítalo Lencker, Bruna usou palavras que nem conhecia na época, tendo que pesquisar os significados posteriormente. “Pode até soar prepotente, mas é como se eu fosse o instrumento de um ser divino.”
Não é sempre, no entanto, que as letras chegam a Bruna. Com a primeira música composta aos 11 anos, seu repertório conta com apenas 15 canções. Seja recebendo as palavras de alguma entidade ou escrevendo-as de inspiração própria, o processo de composição é quase sempre no mesmo local: o banheiro. É que, em uma casa com dois irmãos menores, dois cachorros e uma barulhenta mãe descendente de italianos, lá é o único cômodo onde ela pode se trancar e ter privacidade. “Levo uma xícara de café, um maço de cigarros, cinzeiro, caderno, um celular para gravar e o violão. A pia fica cheia de coisas”, ri. Segundo ela, as composições só vingam quando vêm de uma vez, sempre após uma inspiração muito forte que a deixa inquieta até que ela coloque tudo no papel.
BRUNA MORAES – ‘OLHO DE DENTRO’ – Tom Jazz. Avenida Angélica, 2.331, Higienópolis, telefone 3255-0084. Hoje, 21 h. R$ 50.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.