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Bruce Gomlevsky revela a complexa, mas delicada persona de Renato Russo

O musical brasileiro ainda fincava as bases de sua nova fase, iniciada nos anos 2000, quando o ator Bruce Gomlevsky surgiu com um projeto arrojado para a época: Renato Russo – O Musical. Era 2006 e, enquanto as produções dominantes reuniam elencos gigantescos, com orquestra ao vivo e cenários suntuosos, Bruce entrava em cena praticamente sozinho, sem objetos com que interagir e trocando diálogos com um punhado de músicos. “O que realmente importava era a vida e a obra do Renato”, conta ele, que volta a São Paulo com o espetáculo, estreando na sexta-feira, 4, no Teatro do Shopping Frei Caneca.

Bruce desembarca com a alma lavada – afinal, ele atraiu pequenas multidões em apresentações ao ar livre: 10 mil pessoas compareceram à Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no dia 22 de julho, e outras 15 mil estiveram no Parque da Redenção, em Porto Alegre, domingo passado. Motivos de tamanha paixão? “Talvez as letras das canções compostas por Renato sejam hoje mais pertinentes do que na sua época, porque tocam em questões da ordem do dia”, acredita o ator.

Um dos grandes poetas da geração 1980, Renato Manfredini Júnior (1960-1996) ajudou a consolidar o rock nacional ao liderar a Legião Urbana, ao lado de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. Juntos, criaram canções que ainda encantam gerações diferentes. Melhor ainda: a música de Russo esteve presente em fases agudas da história recente do Brasil e a comentou.

Diante de uma biografia com tanto potencial, Bruce decidiu homenagear o músico no momento em que se completavam dez anos de sua morte. “Quis celebrar a obra do Renato; por isso, idealizei o espetáculo em 2006, quando ainda não eram comuns musicais inspirados na biografia de artistas famosos, como aconteceu depois.”

O primeiro passo foi se cercar de um grupo criativo de primeira linha. Para a encenação, Bruce convidou Mauro Mendonça Filho que, com o passar dos anos, se consolidaria como um dos mais criativos diretores de palco e de TV. Para resolver a questão do texto, Bruce se uniu a Daniela Pereira de Carvalho. Juntos, conversaram com amigos e familiares do cantor e, para arredondar o roteiro, se debruçaram sobre a biografia escrita pelo jornalista Arthur Dapieve, intitulada Renato Russo – O Trovador Solitário. A essência, ou seja, os amores e os dissabores do músico, foi para o palco: da juventude, quando ele passou dois anos numa cadeira de rodas por causa de um mal ósseo chamado epifisiólise, até o diagnóstico da aids, o espectador acompanha a construção de um ídolo.

O passo seguinte foi o maior desafio: quais canções deveriam constar no espetáculo? “Nossa decisão foi por aquelas que ajudam a contar a história do Renato”, explica Bruce. “Ele cantava em primeira pessoa, o que explica a grande identificação com o público. E sempre colocou sua obra em primeiro lugar, mesmo quando sofria graves problemas.”

Com uma voz menos grave que a de Russo, o ator interpreta 22 músicas, a maioria ganhou a alcunha de clássicos como Eduardo e Mônica, Pais e Filhos, Geração Coca-Cola e Que País É Esse?, entre outras. “Esta última foi composta em 1978 e continua incrivelmente atual. Comprova também como Renato era suscetível aos problemas brasileiros.”

Quando começou o trabalho de caracterização, aliás, Bruce Gomlevsky percebeu uma certa semelhança física com o músico – bastou aparar o cabelo e cultivar uma barba para o visual ficar mais perfeito. Comandado por Mauro Mendonça Filho, o ator tomou a decisão acertada: não imitaria Renato Russo. “Não sou um cover. Improvisei muito nos ensaios e aproveitei minha bagagem de fã de grandes bandas (Paralamas, Titãs, Plebe Rude), que moldaram minha sensibilidade. Quis trazer a alma de Renato para o palco, ainda que repetisse detalhes de seus gestos, como a forma de arrumar os óculos ou o jeito de caminhar.”

O resultado impressiona, a ponto de Bruce já se interessar por um novo projeto: ao ler Só Por Hoje e Para Sempre – Diário do Recomeço, livro que reúne as anotações que Russo fez em 1993, quando se internou para se livrar do álcool e das drogas, Bruce se animou a montar um espetáculo para 2018. “Será o Lado B de Renato, mais sombrio e intenso.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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