‘Bróder’ chega aos cinemas com história sobre amizade

Quando se mudou para o Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, disposto a misturar-se às vielas por três meses e assim parir o personagem Macu, o ator Cario Blat sabia o risco de interpretar um ‘mano’. As gírias viriam da convivência com a comunidade, dos textos do escritor Ferréz e das letras cáusticas do grupo Racionais MC’s. A parte mais difícil, porém, seria incorporar a experiência de vida de quem nasce na favela. Blat teve de se dissolver para deixar surgir Macu. Apostou nas crianças que, por serem novas, têm uma memória mais curta de suas atuações em novelas. A elas, apresentou-se como o personagem do filme “Bróder”, que conta a história de três amigos de infância que nasceram e cresceram na comunidade. Em um mês, já tinha ganhado a intimidade da molecada, que lhe pedia insistentemente: “Ô Macu, deixa eu jogar teu videogame, mano?”.

Foram nas competições de games com as crianças, nas rodadas de cerveja e no bate-papo com histórias de vida no boteco que se construiu o personagem que garantiu a Blat o Kikito de melhor ator no Festival de Gramado do ano passado. Ainda no mesmo evento, “Bróder”, que estreia amanhã nos cinemas, conquistou os prêmios de melhor filme, diretor, montagem e trilha sonora. “É o melhor papel da minha vida”, conta Blat. “Tão denso que, na preparação de uma das cenas, subi até uma laje para respirar um pouco e me livrar do nervosismo”, conta o ator. Ele não foi o único. A responsabilidade de dirigir seu primeiro longa fez com que o diretor Jeferson De, 42 anos, chegasse a chorar por causa de adiamentos relacionados à agenda dos atores e busca por patrocínio.

O filme, realizado em seis meses, com o orçamento de R$ 3, 2 milhões – menos da metade do que custou “Cidade de Deus” – é a vitrine que pode alçar Jeferson ao posto de novo queridinho da telona. “Espero finalmente ganhar dinheiro com cinema porque, por enquanto, grana, que é bom, nada”, conta. O diretor, que antes trabalhava com curtas e programas de televisão, ia dar ao filme o título de “Um Dia”. O diretor e campeão de bilheteria Daniel Filho sugeriu Brother. Jeferson, então, abrasileirou a palavra.

A preparação do elenco, feita por Sérgio Penna – que trabalhou em “Bruna Surfistinha” e “Lula, O Filho do Brasil”, entre outras produções nacionais -, foi uma diversão à parte. O ator carioca Jonathan Haagensen penou para converter seu sotaque chiado à discreta melodia do ‘s’ paulistano. “Uma fonoaudióloga me ajudou. Ainda bem que não tinha ‘isqueiro na esquina da escola’ no roteiro”, brinca. A atriz Cássia Kiss também suou para compor a personagem Sônia. Limpou casas de moradoras do Capão, conversou sobre o dia a dia delas e fez até uma feijoada como exercício de cena. “É, até que estava boa”, atestou o ator Silvio Guidane, que provou a receita. As informações são do Jornal da Tarde.

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