O ministro da Cultura, Juca Ferreira, e o maestro John Neschling anunciaram ontem a criação da Companhia Brasileira de Ópera que, a partir de abril do ano que vem, pretende realizar mais de cem apresentações de “O Barbeiro de Sevilha”, de Rossini, em cerca de 20 cidades do País.
Orçado em R$ 14 milhões, o projeto, segundo o maestro, está na sua “etapa 1” – foi aprovado para captar por meio da Lei Rouanet e agora parte em busca de patrocínio. “Estou me lembrando da primeira coletiva que dei, 12 anos atrás, falando dos planos de refazer a Osesp”, disse o maestro.
Não se trata de uma companhia estatal – e, nesse sentido, estranhou-se a presença oficial do ministro da Cultura na coletiva de anúncio do projeto. “De fato, essa é uma iniciativa privada, mas o Ministério entende que, por sua importância, deve apoiá-la. E ele se encaixa na maneira como entendemos o papel do Ministério”, disse Juca Ferreira.
“Nosso foco é a democratização da Cultura, por um lado dando acesso ao público e, por outro, permitindo que todas as áreas tenham acesso à captação de verbas.” Sobre a participação no projeto, Ferreira disse ainda que o Ministério o apoia, num primeiro momento, apenas institucionalmente, o que imagina deve facilitar o processo de obtenção de verbas, inclusive por meio de empresas estatais.
“A ideia surgiu a partir da dificuldade de se fazer ópera no Brasil hoje”, explicou Neschling. “Há uma enorme tradição brasileira no gênero, mas ela foi se desfazendo, com poucas oportunidades para o público e para os profissionais. Daí o formato de uma companhia fixa, em que técnicos, cenógrafos, cantores, orquestra, maquiadores, iluminadores, enfim, todos sejam contratados e tenham tranquilidade para desenvolver seus trabalhos. E, claro, a ideia é que eles, nas cidades em que visitarmos, possam oferecer oficinas, aulas, seminários, visando a formação de novos profissionais. A proposta não se resume à exibição de uma ópera, queremos criar uma nova dinâmica de produção operística no País”.
Segundo Neschling, o título escolhido foi “O Barbeiro de Sevilha” por ser uma ópera de câmara, fácil de viajar. Será criada uma orquestra – a ser comandada por Neschling e maestros convidados como Abel Rocha, Vitor Hugo Toro e Ira Levin – e três elencos serão formados.
“Esses artistas vão se dividindo ao longo da temporada. E é importante dizer que não hierarquiza o elenco, o barítono que num dia faz o Figaro no dia seguinte canta Fiorello e por aí vai.”
A concepção cênica da ópera, assinada pelo diretor italiano Pier Francesco Maestrini, faz uso de um desenho animado de duas horas e meia em que é narrada a história da ópera.
“Os cantores vão interagir com o desenho animado, que será exibido em uma tela especial que permita esse diálogo. O Barbeiro é uma ópera difícil de interpretar, mas fácil de viajar. E essa linguagem de cinema pode ajudar a atrair o público que nunca teve contato com este tipo de espetáculo”, afirmou Neschling. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.